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domingo, 7 de dezembro de 2008

Crise sobre crise e mais crise

Imigrantes, sobretudo do norte de África mas também de outros países, desesperam na Andaluzia por um trabalho na campanha da apanha da azeitona. Alguns vêm há quatro, cinco anos a fazer este trabalho, mas este ano não há trabalho para eles. Muitos espanhóis, agora desempregados, aproveitam estes trabalhos, antes apenas realizados por clandestinos.
"Não se lhes pergunta por documentos, a todos se dá um bilhete de regresso a casa", dizem os serviços de apoio. Um bilhete para regressar a uma casa e a um país onde não vislumbram qualquer futuro. Começamos a ter a noção do impacto da crise dos mercados na economia real, no emprego, na sobrevivência de cada vez mais pessoas, uma bola de neve que ainda está no início.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Imigrantes ilegais

Nos últimos dias, foram interceptados pelas autoridades portugueses 22 imigrantes ilegais, de diversas nacionalidades, a trabalhar na zona do Algarve. Vão ser extraditados para os países de origem, cumprindo a legislação existente para estes casos.
- É assim em toda a Europa, dirão. Mas a legalidade não supõe aqui a justiça, quando sabemos da impossibilidade destas pessoas sobreviverem nos seus países, de alimentarem os seus filhos e as suas famílias. As leis da imigração têm de tornar possível outra abertura e outras saídas.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Terror e morte em Bombaim

Os ataques da última quarta-feira na cidade indiana de Bombaim a alvos seleccionados, relacionados com interesses ou a presença de ocidentais - grandes hotéis - fazem pensar no dedo da rede terrorista Al-qaeda . Afinal, pouco ou nada se avançou no cambate ao terrorismo. Estamos no mesmo ponto.
Muitos discutem se isto é ou não um choque de civilizações? Talvez não seja, mas é de certo um choque entre a liberdade e o fanatismo, entre a razão e a crença, entre valores culturais muito distintos. Seja como for, há já rupturas visíveis, basta visitar países árabes, mesmo os ocidentalizados, como Marrocos, Tunísia e Egipto, para se perceber que há dois mundos de costas voltadas. A questão é esta: ou continuamos assim e, então, a tendência é para agudizar o problema, ou procuramos a proximidade do face a face, deixando que o sentir e o existir humanos tornem possível o encontro. Como Lévinas podia ajudar, a uns e a outros, a perceber a questão da violência! (Que livros lerão estes senhores que planeam e executam estes ataques? Que referências terão? Quem deixarão esperando em casa?)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Uma nódoa, muitas nódoas negras

Hoje, 25 de Novembro, dia Internacional contra a violência contra as mulheres, a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) lança uma campanha contra a violência de género. Um tipo de violência que atravessa toda a sociedade e todos os grupos sociais. É, porventura, um problema tão velho como a humanidade, mas isso não é nenhuma atenuante, ao contrário, devia envergonhar-nos, por ainda não termos sido capazes de acabar com esta violação dos direitos fundamentais. Trata-se de algo absolutamente condenável, é o não respeito pela dignidade e a integridade da pessoa humana. Fala-se também cada vez mais da violência entre jovens namorados, uma situação incompreensível e preocupante, mais ainda quando acreditávamos ser o namoro um tempo de paz e de felicidade. Em qualquer ponto, ou em muitos pontos, a família, a escola e a sociedade falharam e falham. O problema parece sair-nos das mãos, tal é a evidência.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

"Deixámos de precisar do seu trabalho"

Acabo de ouvir um jovem de 39 anos, licenciado, com a vida adiada, há mais de uma dezena de anos a recibos verdes, a trabalhar aqui e ali. Sendo o trabalho um direito humano, tão importante como a liberdade ou qualquer outro dos chamados direitos fundamentais, porque o desemprego põe em causa a própria dignidade humana, a precariedade laboral que os jovens e muitos adultos vivem é uma violação de direitos intolerável. As sociedades actuais têm de olhar com olhos de ver o problema do emprego, ou um dia destes, mais cedo que tarde, o desmoronamento social é inevitável.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Meninos-soldado, que fizeram dos vossos sonhos

No Congo, reacendeu com a brutalidade de sempre a eterna guerra civil que opõe facções tribais e políticas. É incompreensível como o conflito parece fugir do controlo da ONU, apesar do número de capacetes azuis no terreno; parece impossível como a irracionalidade dos senhores da guerra tem tamanha maldade e atinge tamanha proporção. Vale tudo. Vão às escolas e recrutam crianças de nove, dez, onze anos para envolverem na guerra, transformando-os em carregadores de material bélico ou ensinando-os a matar. Roubam-lhes tudo: a inocência, os sonhos, os sentimentos, a vida.
De nada valem as declarações e os tratados internacionais que defendem os direitos das crianças, de nada valem tantos organismos internacionais que devem regular e vigiar a aplicação destes tratados. É tudo letra morta, é tudo impossibilidade. E o cidadão comum que assiste às notícias não pode acreditar em tanta ineficácia. Para que serve uma ONU assim? Para que servem as instituições regionais, africanas, europeias, etc.? Demitam-se, criem espaço e condições para a reforma dessas instituições.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A escola: o ideal e o possível

Não é possível qualquer política educativa sem um ideal de escola que dê consistência e uma visão de conjunto às medidas que vão sendo tomadas; na certeza porém de que esse ideal é isso mesmo, uma referência de excelência, sempre procurada, o que obriga a um questionamento e a uma construção permanentes por parte de todos, desde os mais directamente envolvidos à sociedade em geral.
Acontece que não descortinamos, nos tempos que correm, essa ideia de escola, em vez dela ouvimos falar de coisas avulso, de um modelo educativo, de um modelo de avaliação, de um modelo disto e daquilo, como se as situações e as relações vividas na realidade escolar se pudessem fixar, determinar e controlar por antecipação, através de leis, regras, medidas, programas, etc., pretensamente objectivos, e cuja eficácia só dependeria da boa vontade e do trabalho dos professores e gestores escolares. Puro engano, pois nem a escola é uma empresa, nem os professores e os alunos são peças de uma engrenagem, são pessoas, devem por isso ser participantes activos da sua realidade escolar.