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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Explosões em Damasco, capital da Síria

Damasco, uma cidade bíblica, carregada de simbolismo, é hoje palco de uma quase guerra civil, com uma desolação e uma ameaça crescentes invadindo as ruas. Ontem, duas bombas explodiram, mais de 55 pessoas mortas e mais de trezentas e setenta feridas. É a barbárie no seu auge, planeada, pensada, executada sobre inocentes.
A violência de um regime – uma ditadura – que finge eleições, promete cumprir acordos, mas tudo não passa de manobras de diversão para ganhar tempo e continuar eternizar-se no poder. Muda-se tanta coisa, intervêm-se em tanto lado, mas aqui a ONU assiste, sim, que o que fez até hoje pouco mais é que observar. Nenhuma Resolução, nenhuma acção capaz de parar com os confrontos, bem sei que a Rússia e outros o impedem. E, entretanto, o povo continua acurralado e a morrer.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A extrema direita, na Europa

Assistimos, quase incrédulos, no dia das eleições gregas, ao partido da extrema direita, que acabava de eleger 20 deputados, a exigir, numa conferencia de imprensa, que os jornalistas se levantassem à entrada do líder.  Julgávamos isto do passado, mas não é, e de aqui ao lado, da velha e instruída Europa. É preciso reflectir sobre as razões deste fenómeno que não exclusivo da Grécia,  veja-se o que aconteceu com estes partidos na França, na Holanda, na Áustria e mesmo na Alemanha. Parece evidente que as democracias não sabem lidar com o problema, pois em nome da liberdade individual, entende-se que o povo tem direito a exprimir-se como quer, e tem , mas as sociedades não podem viver com quem não respeita os pilares das democracias, a dignidade humana, o respeito pelo outro e a pluralidade de valores.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A escrava livre, o filme

É um filme antigo, um clássico do cinema, que retrata o final da escravatura nos Estados Unidos, nos finais do século XIX. Quem são os escravos? De algum modo, todos são escravos: uns por desumana imposição, outros porque não se conseguem libertar do seu passado cruel de mercadores e traficantes de seres humanos, outros por incapacidade de aceitar o que lhes calha em sorte ou azar.
O antigo mercador de escravos vive um particular tormento, degladia-se consigo mesmo,  dentro de uma consciência perturbada, incapaz  de uma saída.
Rau-rau, o jovem negro, que ele cria como se fosse filho, estuda, anda bem vestido e é bem tratado, mas é consumido por um quase ódio, pois, esta bondade do senhor é para ele  insuportável. Sente-se escravo, identifica-se com a luta mas como poderá revoltar-se contra o senhor?
A jovem mulata, a protagonista, filha de um senhor branco com uma negra, nunca se sentiu negra, julgava-se branca, livre, viveu sem qualquer problema de identidade, estudou nos melhores colégios e frequentou a melhor sociedade, até ao dia em que o pai morre e é vendida com todos os outros. O mesmo destino: o mercado de escravos, em Nova Orleães, vendidos pelo melhor preço, num humilhante leilão.
É aí que aparece o tal antigo mercador de escravos, agora um rico proprietário de fazendas e palacetes em várias regiões. Oferece uma quantia exorbitante que desafia qualquer outra proposta. Leva-a para casa, manda-a instalar no quarto de hóspedes e pede para que seja tratada como uma senhora. Ela reage, quer viver como os escravos, ser como eles, se é de facto escrava. Mas não está ali para isso, e sabe-o.
No primeiro dia que sai para comprar vestidos, chapéus e outros luxos vindos de Paris, tenta a fuga. É apanhada, à entrada do barco. Está vigiada por Rau-rau, o fiel criado. Volta para casa e a vida segue. Um dia acaba por ceder ao senhor, beijam-se. Enquanto, a bonita escrava, a governanta da casa, sofre por dentro e por fora em silêncio. “Gosta muito dele” - diz-lhe a jovem.
Mas há um dia em que o coração a trai, também ela começa a gostar dele. É por isso que, certa vez, não continua a viagem  e no último momento resolve sair também do barco, e é por isso que reage às investidas do fazendeiro branco, amigo do senhor,  quando este está fora.
Um dia, porque a ama, conta-lhe tudo, o seu passado de traficante, como enriqueceu, o que fez, como tratou os escravos…, conta também a história de Rau, a mae morre com um bébe ao colo, aos poucos dias de chegar ao barco negreiro, recolhe-o e cuida dele até hoje.
Depois disto, deixa a jovem voltar para casa. Mas, não é um regresso a casa, encontra o antigo namorado, mas muitas coisas estavam estilhaçadas e  sem possibilidade de se remediarem.
Volta à fazenda onde deixou o antigo mercador e encontra Rau,agora já soldado da revolução, também ele voltou para ter um duelo com o senhor, mas incapaz de o fazer, deixou-o fugir. “Sei onde está, sei como encontra-lo” – diz-lhe.
E sabia.  Encontram-se e partem num pequeno barco que os espera no rio. Ficamos a pensar que o amor pode tudo, pode até achar que olhos de monstros se tornam em olhos de cordeiros, ou se calhar que os monstros também são cordeiros.
Mas, para o espectador, pelo menos para mim, ele continua sombrio, olho-o e vejo o traficante de escravos que sem piedade comprou, aprisionou e maltratou milhares e milhares de inocentes. Não sou capaz de ver mais nada, é que ser mercador e negociante de escravos, dono e capitão de um barco negreiro, é demais.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Charles Taylor, julgado e condenado pelo TPI

O TPI (Tribunal Penal Internacional) julgou o antigo presidente da Libéria, por crimes contra a humanidade. É mais um aviso para o que pensam estar impunes. Senhores que matam, contrabandeiam, traficam, violam, mutilam, exploram…, como se nada se passasse, como se um poder absoluto lhes iluminasse a mente, pavoneando-se com toda a espécie de luxos e apertando a mão a outros que tais.
Agora, sabe-se que podem ser capturados, presos, julgados e condenados. Taylor não é o primeiro nem será o último a sentar-se no banco dos réus. Ficou provado que armou os rebeldes da Serra Leoa, que pactou ou patrocinou toda a espécie de crimes. Intolerável, portanto.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Colaborador de Israel, um árabe

"Finalmente, uma rapariga bonita de Hebron"! Exclamou o irmão mais novo, olhando uma das irmãs pequenas, de 3 e 4 anos, depois de ter ajudado a mãe a dar-lhes banho, a vesti-las e a penteá-las. E continuou, com alguma ironia: “eu nasci em Hebron e não sou bonito”!
“Sim, tu és bonito, és um rapaz bonito” - diz-lhe a mãe.
A Cisjordânia, Hebron… – embora vivessem naquele subúrbio, no sul de Telavive, não pudessem regressar a casa (o pai tinha traído o seu povo e jamais seria aceite de volta, tal como a mulher e os filhos) –, eram todas as referências que davam ânimo, abriam sorrisos, traziam boas recordações.
O resto era desintegração, impossibilidade de obter a cidadania israelita, os filhos mais velhos perdendo-se (dezasseis, catorze e onze anos), insucesso escolar, fugas, acosso policial, tribunal de menores, reformatório, colégio interno …
Forte era a mãe, apesar, do problema físico! Aguentava. Sempre presente, lutando, indo…, mesmo quando o marido ficou oito meses em prisão domiciliária, por lhe ter batido. Só desmorona quando o filho mais novo é levado para um colégio interno, pensa que é igual ao reformatório onde está o filho do meio. O mais velho explica-lhe que não, que vai para estudar. Chora. Olha o marido e diz: “estamos a perder todos os nossos filhos”.
"Por que estás a chorar" - pergunta-lhe a filha de quatro anos?
"Dói-lhe o estômago" – responde o pai.
Como lhe vai dizer que lhe dói a alma! À mãe dói a alma, e muito! Se calhar, ao pai também, mas vinte anos de colaboração com os serviços secretos israelitas ditaram a sentença da sua vida. O pior é que ditaram também a da sua família.



(a propósito de um documentário na RTP 2)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Contingência, demasiada

Acabámos de ouvir que, num grave desastre, na Suiça, morreram 28 belgas, entre eles,  22 crianças, que vinham de umas férias na neve.  Perturba. Aflige, a contingencia  humana. Há uma insutentável precariedade.  Morre-se no  primeiro mundo, como se morre nas montanhas do Afeganistão, como se morre nos bairros da Siria e por todo o lado. É o instante da vida ou da morte, não sei bem. Não percebemos nada, confundem-nos com o poder, o dinheiro, a fama...,  e, depois, a  vida é isto.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Homs, sangrando

O cerco das últimas semanas, por parte das tropas governamentais, a um bairro de Homs, onde os rebeldes sírios se refugiaram, parece  ter tocado todos os limites. Bombas, mortes, fome... Impressiona ver imagens de pessoas a apanhar a neve que cai, em bacias e baldes, para terem água para beber. Entretanto, a comunidade internacional assiste. Houve reuniões, em Tunes, designou-se um enviado especial da ONU,  o antigo secretário geral, conseguiu-se, a custo, visitar a cidade, evacuar os feridos, entre eles jornalistas, e agora espera-se por condições para a ajuda humanitária poder actuar com segurança, para se poder chegar a Damasco e, finalmente, se houver sorte, se poder conversar com o ditador. Triste  sina, a de um povo  que apenas  quer  liberdade e direitos básicos. Triste sina a de organizações como a ONU que, perante ditadores deste género, ficam sem saída, ou quase.