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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Haiti, será uma reconstrução justa?

Desejo, espero, que não se repitam, no Haiti, as respostas de sempre. Reuniões e mais reuniões, muitos doadores, muitas intenções, mas também muita política… Parece sempre nestes casos faltar o essencial: uma nova ideia de desenvolvimento que seja justa e eficaz.
Tive um sonho, sonhei que, desta vez, vão empenhar-se em construir um país justo, um país que possa alimentar, cuidar e educar todos os seus habitantes. Um país onde as condições de partida sejam capazes de garantir igualdade de oportunidades, como num filme de que não recordo o nome, com a Michelle Pfeiffer, que, perante uma turma de adolescentes rebeldes, violentos, malcomportados, sem sucesso escolar, ensaia uma estratégia: agora, é como se todos estivessem no nível mais elevado, todos tivessem obtido a melhor nota, a partir daqui ou conservam a nota, e lutam por isso com os meios e os apoios que vão ter ao dispor, ou deixam que se reduza, mas não dirão que não tiveram as mesmas oportunidades. Há o empenho, o compromisso, a decisão, a participação de todos.
Isto mesmo se devia passar no Haiti, criar condições de partida de igualdade de oportunidades, ninguém pode ficar nas margens, e depois motivar as pessoas, responsabiliza-las, convencê-las de que o futuro depende do trabalho delas, são elas que decidem, têm meios e ferramentas, para tal.
Como no filme, haverá problemas, muitos problemas, estes, não se extinguem por mágica, mas haverá, igualmente, inter-ajuda, superação, auto-estima e sucesso. Haverá o que falta há séculos, para não dizer desde sempre, ao povo haitiano.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Haiti, o melhor e o pior do humano

Após a catrástrofe, os que chegaram, vindos de muitos países do mundo, para ajudar os haitianos, fizeram-no de forma des-interessada, voluntária, fraterna. Dão-se, respondem, actuam, com total disponibilidade, com total humanidade. Ser humano é isto, é chegar e dizer: “eis-me aqui”, pronto a socorrer, a tratar, a construir um abrigo, a ouvir, a sorrir, a cuidar, sem esperar nada em troca. É bom ver do que somos capazes. (Embora saibamos que, passada a fase da emergência, entrarão em acção a economia e a política - aliás, os franceses e Chávez já começaram a falar dos americanos - e com elas um sem número de interesses).
Mas vemos, também, o não-humano, as pilhagens e a violência organizada tomando, impunemente, conta de algumas ruas e bairros. Aquela imagem de um jovem que numa das mãos leva uma cerveja e na outra uma pistola, é um mau presságio. Percebe-se bem porque é que a segurança é uma coisa tão séria, fundamental.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Haiti, os meninos de ninguém

Queria escrever sobre o inferno do Haiti, mas não sou capaz. Dizer o quê? Dizer que tenho vergonha de pertencer a essa parte do mundo que deixa, que permite, que existam, em 2010, países como o Haiti, com este nível de pobreza, de subdesenvolvimento, de fraqueza ou inexistência das instituições fundamentais do Estado…; dizer que sou incapaz de compreender que se atulhem, no aeroporto, milhares de toneladas de ajuda humanitária e a mesma não chegue às pessoas afectadas; dizer que cada vez acredito menos na eficiência da ONU, como se tem visto nesta situação em que os capacetes azuis não conseguem garantir a distribuição da ajuda em condições de segurança; salva-se a resposta massiva do mundo todo, ou quase, em solidariedade com o povo do Haiti.
Desde o dia do terramoto que também eu deambulo pelas ruas de Port-au-Prince, dando a mão aos meninos que ninguém veio buscar, órfãos de tantas e tantas tragédias. Meninos ausentes, perdidos, que já não choram, que já não pedem... Meninos com direitos, meninos de toda a gente. Meninos meus. Um dia, quando for possível, inventarei histórias bonitas para vos contar! E sei que vão querer ouvi-las.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Morte e devastação no Haiti

O sismo de há dois dias trouxe

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Saara Ocidental

Pela força e pelo gesto de Aminetu Haidar, o problema do Saara Ocidental pode entrar de novo nas preocupações do mundo e da ONU. Talvez se possa discutir e levar a cabo, através de um processo democrático, a autodeterminação deste povo, há tantos anos violentado na sua cultura, na sua história e na sua dignidade. Nada está perdido, quando há consciências que resistem. Apesar da fragilidade visível o interior e a crença desta mulher são desmedidas. O que será possível fazer, a partir de agora?

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O terror de sempre

28 De Dezembro, numa cidade paquistanesa, durante uma procissão de xiitas, minoria religiosa naquele país, várias explosões massacram e matam mais de trinta pessoas. Pânico, medo, terror… É a negação do ser religioso. É a antítese. A liberdade religiosa, direito humano, é, nestas paragens, letra morta, uma não questão, pois não há o mínimo respeito pela pessoa humana. O que leva estes seres, ditos religiosos, em nome de um Deus (que por acaso é o mesmo de todos os outros, os que crêem), a matar o seu semelhante? Entender isto é impossível. Ninguém pode, nem os próprios, se se afastarem, o mínimo que seja, do fundamentalismo mais radical.
Não entendemos, apesar da evidência, como o terror invadiu os nossos dias, as nossas vidas, as nossas cidades, ameaçando conduzir-nos a uma paranóia colectiva, veja-se o que aconteceu nos últimos dias ao cidadão nigeriano que tinha todo um aparato policial e anti-terrorista à sua espera no aeroporto de Detroit, só porque, por coincidência, era nigeriano, tinha apanhado um voo Amesterdão-Detroit, foi várias vezes à casa de banho durante o voo, o mesmo que um compatriota seu fizera, uma semana atrás, esse sim, envolvido em explosivos que tencionava fazer explodir. A que níveis de violação dos direitos individuais chegará a suspeição? Não precisa de se provar nada, suspeita-se, actua-se. Por mais que nos custe, talvez tenha de ser assim, já que os riscos que se correm podem ser demasiado graves.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Aminetu Haidar, mulher saraui

Num texto muito bonito, em que fala sobre a sua experiência num campo de trabalhos forçados da Alemanha nazi, Lévinas conta como a sua vida e a dos seus companheiros, integrando um comando florestal de prisioneiros israelitas, era uma espécie de parênteses. Pois, apesar de continuarem a sentir interiormente "um múrmúrio da sua essência racional", apesar de terem pensamento e vocabulário, eram seres sem linguagem. Seres encerrados em si mesmos, condenados a “significantes sem significado”. Para as pessoas ditas livres, com quem se cruzavam, de quem recebiam ordens ou mesmo um sorriso, não passavam de seres quase humanos. Em circunstâncias de perseguição, tortura, humilhação, em que a autonomia, a liberdade, se suspende, apesar da vida continuar e de, em muitos aspectos, continuar na mesma, nada é igual.
A propósito, penso na activista saraui que tem resistido a ser um ser sem linguagem. Veremos a que preço. Continua retida, no aeroporto de Lanzarote, em greve de fome, desde de 15 de Novembro, impedida de regressar ao Saara Ocidental pelas autoridades marroquinas.