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quarta-feira, 4 de maio de 2022
O guardador de gado
terça-feira, 26 de abril de 2022
Um poema de Ruy Belo: "E tudo era possível"
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de Maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder de uma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
Ruy Belo
segunda-feira, 25 de abril de 2022
Viva o 25 de abril, a revolução portuguesa
A jovem saiu de casa como todos os dias, sem saber que tinha havida uma revolução naquela madrugada. Ela não sabia que podia haver revoluções, que a vida podia ser diferente, que os quartéis, as tropas, as mobilizações e as mortes em Angola, Moçambique, Guiné..., não eram uma normalidade. Ela não sabia que o homem simpático que regava as flores e dava lustro à placa dourada da sede da PIDE/ DGS, era do regime Ela não sabia o que era o regime!
Agora sabe. Aprendeu que a liberdade, a igualdade e a democracia não são um destino, antes, uma luta diária de pessoas e instituições nacionais e supranacionais.
sexta-feira, 22 de abril de 2022
A perversidade da guerra
A guerra perverte tudo: põe o conhecimento racional e científico ao serviço das academias militares, das indústrias de armamento, da sofisticação das armas, das estratégias bélicas, da morte planificada de pessoas…, como se tudo fosse normal.
A razão, ao serviço da total irracionalidade, que confunde
tudo, que domina tudo, que destrói tudo. E assim estamos, e assim continuamos,
como se estivéssemos na idade da pedra, incapazes de mudar de vida.
Tropas russas na Ucrânia |
terça-feira, 19 de abril de 2022
O jovem morto na guerra - poema de Fernando Pessoa
O menino de sua mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
Duas, de lado a lado,
Jaz morto, e arrefece
Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
“O menino de sua mãe”.
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lha a mãe. Está inteira a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço … deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece”)
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe
Fernando Pessoa
sábado, 16 de abril de 2022
Boa Páscoa
Num mundo tão difícil, morte, desespero, guerra..., festejar a Páscoa, parece uma ironia. Mas não nos resta mais nada se não continuarmos a fazer o que nos for possível para um mundo mais humano.
sexta-feira, 15 de abril de 2022
Nas ruínas de Mariupol, Ucrânia
Começam a aparecer apontamentos de reportagem que tocam a dignidade humana – sei bem que tudo naquela guerra é indigno e que a barbárie russa precisa ser mostrada, mas há limites!
Aquele homem, relativamente novo, de olhar perdido, mais que desorientado, incapaz de articular discurso e a quem perguntam: como se sente? Para onde vai? Quem perdeu? Já não tem casa?
Aquele jovem, em cima de uma montanha de destroços, a quem
perguntam: como se sente? O que perdeu? Não tem para onde ir? Não tem medo de
ficar aqui?
- Não saio daqui. Até
tenho para onde ir, mas é tão longe, que não sei se ia conseguir lá chegar…