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quinta-feira, 24 de março de 2011

E um dia, a democracia bateu à porta

Estavam ali reunidos para discutirem como deveria ser a organização desse país novo, onde tudo poderia funcionar bem ou mal, conforme as decisões que tomassem. O futuro dependia deles e isso era muita responsabilidade, mas também uma grande alegria e uma enorme confiança, todos juntos poderiam construir um país diferente.
Decidiriam que não haveria mais reis nem rainhas, nem príncipes nem princesas a quem o povo iria beijar a mão e pagar tributo, reverenciar como se fossem deuses. Não haveria mais chefes sagrados, indiscutíveis, a quem o poder caia do céu ou era herdado, como se fossem pessoas predestinadas. Como podia isso ser! Um  príncipe herdeiro que participava,  um jovem moderno, viajado, que dominava línguas, saberes, tecnologias e não só (desconfiavasse que tinha outros valores), tomou a palavra para anunciar: "Não sucederei ao meu pai, não serei rei, a minha vontade vale tanto como a de todos os outros".  Agora, sim, tudo seria mais fácil, a democacia podia bater à porta e entrar.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Catatua Verde

Fui, há poucos dias, ao teatro D. Maria II, ver a peça "A Catatua Verde", de um autor austríaco, Arnold Schnitzer, encenada por  Luís Miguel Cintra. O texto é muito  interessante e a representação atinge, quase durante todo o tempo, uma grande intensidade dramática. Tudo se passa, na noite da revolução francesa, quando mais ou menos alheios ao que se passa nas ruas, a vida decorre normal, numa taberna situada numa cave dos arredores de Paris. O dono, um antigo director de teatro, não serve apenas bebida, serve também teatro, há actores que incarnam ladrões,  prostitutas, homossexuais, bêbedos, pedintes..., para gozo de nobres e aristocratas que, deste modo, tomam contacto com uma realidade a anos luz das suas instaladas vidas. Mas claro, quando uns representam e outros tomam a ficção por realidade, são inevitáveis os equívocos, a certa altura, até os actores confundem os papéis; quando o duque é assassinado, ainda, não é por causa dos revolucionários e da revolução, é por causa da intriga, da traição e dos ciúmes, uma  combinação fatal, desde o princípio dos tempos. Mas deixe-se acreditar, aos  que assistem, que aquela morte é um acto revolucionário, ouve-se no final "viva a liberdade". Ficamos  a pensar no sentido de tudo isto, nos sentimentos humanos, nas glórias e também tragédias das revoluções.

terça-feira, 22 de março de 2011

"Todos nascem livres e iguais"

Ontem, celebrou-se o Dia Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1966, na sequência do que se tinha passado, no dia 21 de Março de 1960, quando a polícia sul-africana atirou a matar sobre uma manifestação pacífica, em Sharpeville, protestando contra o Apartheid, nomeadamente contra as Leis de Passe que obrigavam os indivíduos negros a possuir um cartão com os locais onde lhe era autorizado circular. Morreram 69 pessoas e mais de 180 ficaram feridas.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ainda sobre o mal

Há muitas aproximações teóricas sobre o mal, vindas de vários campos do saber (religião, filosofia, psicologia...), seja como for, o mal, tal como o bem, é da natureza humana, e  é  muito ténue a fronteira entre a paz e a violência. A questão é então ter consciência que ninguém está imune, de que ninguém está acima,  por mais valores humanos que diga defender, por melhor educação que tenha... É preciso que todos se disponham a respeitar o outro, a reconhecer regras democráticas, tratados internacionais, etc., e não fazer disso letra morta, por uma qualquer pretença iluminação ideológica, religiosa, étnica, tribal, etc. Kadafi  disparou, matou, não podia ignorar que um dia iam cair bombas em Tripoli, mas claro  a guerra não é nenhuma solução, mesmo quando parece inevitável.

domingo, 20 de março de 2011

Ataque internacional na Líbia, contra a banalidade do mal

A banalidade do mal, expressão de Hannah Arendt,  é o estado em que o indivíduo, anulado, sem direitos, perde qualquer capacidade de reacção, já não reage às atrocidades, já não pensa no que lhe está a acontecer, como se a violência fosse a norma. As pessoas,  já não são pessoas,  com sentimentos, pensamentos, projectos...; mas são coisas, tratadas como coisas, instrumentos ao serviço do que seja, pode ser do despotismo mais feroz ou da barbárie mais sangrenta.  Quando caças franceses atacam posições de Kadafi, percebe-se a legitimidade. Injusto seria assistir ao extermínio do povo líbio, às mãos do seu chefe, sem nada fazer.

sábado, 19 de março de 2011

O perigo nuclear

É evidente que não percebo nada de energia nuclear, centrais, etc.,  mas perante o que está a acontecer no Japão, penso sempre no modo como as sociedades foram  construindo o seu desenvolvimento, parece sempre que nada chega, que nada é suficiente, que é necessário sempre mais e mais tecnologia,  mesmo  que isso implique resíduos  perigosos, radioactivos e outros, para muitas e muitas gerações.  O preço  a pagar é alto, muito alto, e já não é preciso esperar pelo futuro, a factura está aí.  

quarta-feira, 16 de março de 2011

Japão, a contingência assusta

O sismo, o tsunami que se seguiu e agora o desastre provocado pelas centrais nucleares mostram como, de um momento para o outro,  muda tudo. Mas muda a uma escala inimaginável de destruição,  com reflexos  globais. Pecebe-se porque há já quem fale de apocalipse para se referir ao que se passa no Japão.