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quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Sem-abrigos, nas ruas de uma cidade (2)

 Aparenta ter mais de oitenta anos, de barba branca, por fazer…. Neste tempo, vésperas de Natal, do que mais sente falta é da família que está longe, espalhada, alguma na ilha de Santiago (Cabo Verde), outra na América e outra nos arredores de Lisboa. Não procura ninguém e nem ninguém o procura. Pode lá haver maior solidão – pensamos nós.

- Não estou só, tenho uma companheira de muitas noites e dias, mas às vezes desaparece e nessas alturas fico sozinho e doe-me tudo: o corpo e a alma. Preciso dela, é muito decidida, se não fosse ela não tinha arranjado o bilhete de identidade e não recebia nada do Estado.

- É um grande amor – diz-lhe o jovem voluntário que lhe entrega comida quente.

- É, mesmo – e começa a chorar.

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