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domingo, 13 de dezembro de 2020

O João (1)

 Com uma aparência de desleixo, afastado de todos, deixa-se cair contra o muro. Abandona-se como se desistisse de tudo.

- Deixem-me, deixem-me, deixem-me... – gritava, ao mesmo tempo que dizia palavrões.

- Estás bem? Sentes-te bem?

- Como posso estar bem? Vê além a “bófia”? Vêm de carro e armados, prontos para dar porrada, para a “bófia” todos aqui são drogados e ladrões.

- E não são, sei bem que não. 

- Claro que não. Há “bué” de gente que trabalha e putos que andam na escola.

- E tu andas?

- Não. Já andei, mas não gostava, não sabia nada, era perder tempo. Quando os “cotas” foram dentro nunca mais voltei à escola.

- Os teus pais estão presos?

- Estão, há “bué” de tempo....

Faz silêncio e olha-me, intensamente, não sei se com raiva se com súplica, como se eu tivesse alguma coisa a ver com tudo o que estava a acontecer e pudesse ajudá-lo.

- O que é que tem estarem presos? – Pergunta-me, zangado.



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