Ninguém
lhe explicou para onde ia. Disseram-lhe que precisavam dele, mas não lhe
explicaram porquê nem para quê.
Deixou
a sua vida em aberto, suspensa, ou, se calhar, fechada para sempre. Saiu
de noite, sem se despedir da mãe, levado à força para um destino desconhecido e
incerto de que sentia alguma curiosidade, mas sobretudo arrepios de medo. Foram
muitos os que subiram no velho camião conduzido por três homens soldados.
- Tu
vais ser um soldado, defender a pátria.
Disso,
não percebe nada. Sabe que hoje está vivo e que amanhã poderá ser morto. Pensa
que não se despediu da mãe que andava na lavra. Que terá ela pensado? Irá
arrumar-lhe as poucas coisas? Esperará por ele? O que lhe dirá quando voltar?
-
Vais matar o inimigo, o bandido armado - continuava o oficial.
“E,
então, ele não era bandido armado” – pensava o miúdo cada vez mais encostado à
grade do camião que se arrastava demoradamente sempre em grandes solavancos,
como se a viagem fosse já prenûncio de uma grande tragédia.
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