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sábado, 12 de abril de 2014

Uma criança soldado, num sítio qualquer (e há vários)

Ninguém lhe explicou para onde ia. Disseram-lhe que precisavam dele, mas não lhe explicaram porquê nem para quê.
Deixou a sua vida em aberto, suspensa, ou, se calhar, fechada para sempre. Saiu de noite, sem se despedir da mãe, levado à força para um destino desconhecido e incerto de que sentia alguma curiosidade, mas sobretudo arrepios de medo. Foram muitos os que subiram no velho camião conduzido por três homens soldados.
- Tu vais ser um soldado, defender a pátria.
Disso, não percebe nada. Sabe que hoje está vivo e que amanhã poderá ser morto. Pensa que não se despediu da mãe que andava na lavra. Que terá ela pensado? Irá arrumar-lhe as poucas coisas? Esperará por ele? O que lhe dirá quando voltar?
- Vais matar o inimigo, o bandido armado - continuava o oficial.
“E, então, ele não era bandido armado” – pensava o miúdo cada vez mais encostado à grade do camião que se arrastava demoradamente sempre em grandes solavancos, como se a viagem fosse já prenûncio de uma  grande tragédia.



                       

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