- Um
dólar, um dólar, um euro, um euro …, madame, madame, señora, señora! - Eram
meninos de sete, oito, nove anos que traziam pequenos objectos que tinham
feito com ramos de palmeira entrelaçados: cestinhas, flores, pássaros, e não
sei que mais.
Dão os
objectos (na realidade, pretendem vender) a uma senhora, a outra e a outra, até
ficarem sem nenhum. Quando eu quero comprar, um dos meninos, muito rapidamente,
começa a tecer alguma coisa, mas, como já não havia tempo, entrega-ma, tal
qual, e diz-me: - É um pájaro, é um pájaro (é um pássaro, é um pássaro)!
- Querido
menino, como é um pássaro!
- Não vê
já a cabeça? Não está terminado, mas é um pássaro. A senhora se quiser vê um
pássaro – diz-me num espanhol imperfeito, mas que entendi perfeitamente.
- É um
pássaro, sim! Como não é um pássaro? Tens razão, já o vejo.
A porta do
autocarro fecha-se e o menino acena-me contente, por ter conseguido a moeda.
Fico emocionada e penso na história do Principezinho, será que alguma vez este
menino ouviu falar do principezinho e da ovelha dentro da caixa com buracos: “a
ovelha que tu queres, está lá dentro”.
Igual. O pássaro que eu quero, está aqui,
neste projecto de pássaro. É só imaginar: grande, pequeno, de poucas ou muitas
cores, depende do que eu desejar. Apetece-me
dizer-te: - Não voltes a fazer pássaros completos, faz pássaros para os outros
imaginarem, para os outros sonharem. Sim, que imaginar também é ver.
(Agosto, 2002, no palmeiral de Marraquexe)
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