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segunda-feira, 1 de março de 2010

Madeira, a fé

"Salvámo-nos por milagre", "estamos à conta de Deus", "ruiu a capela e Nossa Senhora ficou inteira"... É assim! A fé a dar consolo, resposta, ajuda, ânimo. A religiosidade visível e expressa, em tantos e tantos momentos, cumpre o seu papel primeiro, o de criar sentido, mesmo em situações limite, como o desta catástrofe.
A fé faz parte daquilo que somos, daquilo que nos estrutura e sustenta e isso não é pouco. Por isso, quem acredita, está sempre melhor, experimenta uma paz que é alheia aos outros. Pudera eu acreditar! Como tenho saudades da minha infância e adolescência, como tenho saudades de um sentido profundo que, mesmo sem eu querer, se vai afastando de mim!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Madeira, pode ser uma lição

Já há uns tempos atrás aqui escrevi sobre a Madeira, de como impressiona o povoamento disperso, mas contínuo de toda a ilha , mesmo nas zonas mais montanhas; de como impressionam as condições de acesso, quer elas sejam veredas, túneis, estradas secundárias ou principais. Parece sempre uma intromissão na terra, na paisagem, no tempo, numa qualquer origem, que não terá despertado para aquela densidade populacional.
Mas é o que temos, é a realidade, e como lidar com ela, quando os deuses se zangam e tudo resvala em torrentes de chuva e lama, e mais chuva e mais lama e mais torrentes, com tantas pessoas mortas, casas destruídas, encostas desfeitas, etc, etc, etc.? O que fazer? Espero ao menos que o que aconteceu seja uma lição para todos, para os habitantes e para quem os governa. Temo que não seja assim, e se continue a forçar a natureza a ponto de a tornar incompatível com o humano. Haverá coisa pior?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Haiti, será uma reconstrução justa?

Desejo, espero, que não se repitam, no Haiti, as respostas de sempre. Reuniões e mais reuniões, muitos doadores, muitas intenções, mas também muita política… Parece sempre nestes casos faltar o essencial: uma nova ideia de desenvolvimento que seja justa e eficaz.
Tive um sonho, sonhei que, desta vez, vão empenhar-se em construir um país justo, um país que possa alimentar, cuidar e educar todos os seus habitantes. Um país onde as condições de partida sejam capazes de garantir igualdade de oportunidades, como num filme de que não recordo o nome, com a Michelle Pfeiffer, que, perante uma turma de adolescentes rebeldes, violentos, malcomportados, sem sucesso escolar, ensaia uma estratégia: agora, é como se todos estivessem no nível mais elevado, todos tivessem obtido a melhor nota, a partir daqui ou conservam a nota, e lutam por isso com os meios e os apoios que vão ter ao dispor, ou deixam que se reduza, mas não dirão que não tiveram as mesmas oportunidades. Há o empenho, o compromisso, a decisão, a participação de todos.
Isto mesmo se devia passar no Haiti, criar condições de partida de igualdade de oportunidades, ninguém pode ficar nas margens, e depois motivar as pessoas, responsabiliza-las, convencê-las de que o futuro depende do trabalho delas, são elas que decidem, têm meios e ferramentas, para tal.
Como no filme, haverá problemas, muitos problemas, estes, não se extinguem por mágica, mas haverá, igualmente, inter-ajuda, superação, auto-estima e sucesso. Haverá o que falta há séculos, para não dizer desde sempre, ao povo haitiano.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Haiti, o melhor e o pior do humano

Após a catrástrofe, os que chegaram, vindos de muitos países do mundo, para ajudar os haitianos, fizeram-no de forma des-interessada, voluntária, fraterna. Dão-se, respondem, actuam, com total disponibilidade, com total humanidade. Ser humano é isto, é chegar e dizer: “eis-me aqui”, pronto a socorrer, a tratar, a construir um abrigo, a ouvir, a sorrir, a cuidar, sem esperar nada em troca. É bom ver do que somos capazes. (Embora saibamos que, passada a fase da emergência, entrarão em acção a economia e a política - aliás, os franceses e Chávez já começaram a falar dos americanos - e com elas um sem número de interesses).
Mas vemos, também, o não-humano, as pilhagens e a violência organizada tomando, impunemente, conta de algumas ruas e bairros. Aquela imagem de um jovem que numa das mãos leva uma cerveja e na outra uma pistola, é um mau presságio. Percebe-se bem porque é que a segurança é uma coisa tão séria, fundamental.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Haiti, os meninos de ninguém

Queria escrever sobre o inferno do Haiti, mas não sou capaz. Dizer o quê? Dizer que tenho vergonha de pertencer a essa parte do mundo que deixa, que permite, que existam, em 2010, países como o Haiti, com este nível de pobreza, de subdesenvolvimento, de fraqueza ou inexistência das instituições fundamentais do Estado…; dizer que sou incapaz de compreender que se atulhem, no aeroporto, milhares de toneladas de ajuda humanitária e a mesma não chegue às pessoas afectadas; dizer que cada vez acredito menos na eficiência da ONU, como se tem visto nesta situação em que os capacetes azuis não conseguem garantir a distribuição da ajuda em condições de segurança; salva-se a resposta massiva do mundo todo, ou quase, em solidariedade com o povo do Haiti.
Desde o dia do terramoto que também eu deambulo pelas ruas de Port-au-Prince, dando a mão aos meninos que ninguém veio buscar, órfãos de tantas e tantas tragédias. Meninos ausentes, perdidos, que já não choram, que já não pedem... Meninos com direitos, meninos de toda a gente. Meninos meus. Um dia, quando for possível, inventarei histórias bonitas para vos contar! E sei que vão querer ouvi-las.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Morte e devastação no Haiti

O sismo de há dois dias trouxe

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Saara Ocidental

Pela força e pelo gesto de Aminetu Haidar, o problema do Saara Ocidental pode entrar de novo nas preocupações do mundo e da ONU. Talvez se possa discutir e levar a cabo, através de um processo democrático, a autodeterminação deste povo, há tantos anos violentado na sua cultura, na sua história e na sua dignidade. Nada está perdido, quando há consciências que resistem. Apesar da fragilidade visível o interior e a crença desta mulher são desmedidas. O que será possível fazer, a partir de agora?