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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Inevitável metafísica

Por que teimamos em enfronhar-nos no para lá do tempo e do espaço que habitamos, do quotidiano que nos rodeia e nos absorve? Por que aspiramos ao invisível? Por que não deixamos de lado, de uma vez por todas, a metafísica? Por que teimamos em procurar o que não existe? Saciemo-nos com o que se compra, vende, troca, adquire, faz e desfaz, ou isso não é possível?
Deveriam chegar-nos as preocupações com o viver e o sobreviver, com os problemas e os dramas humanos, que acontecem no palco da história, onde se joga o poder e ocorrem todas as decisões. Mas tal não acontece. Por uma qualquer inevitabilidade, não somos capazes de o fazer. Habita-nos um “desejo invisível” que nos impele, continuamente, para uma distância, para um não lugar, de que nada sabemos. E eis-nos presos a uma ideia de infinito, a uma transcendência, sem a qual o mundo e a vida não ganham verdadeiro sentido.

O camareiro

Há poucos dias, assisti a esta peça, em cena no Teatro Nacional D. Maria II, e, como acontece com o bom teatro, toda a vida humana, com as suas tragédias, comédias e contingências, passa pela nossa mente, enquanto assistimos à fragilidade e à morte do velho actor, à ressonância em nós dos bombardeamentos (em plena II Guera Mundial) e ao desmoronamento inevitável daquela companhia . No fim todos perdem ou todos ganham, como em tudo, depende sempre do ponto de vista. O mais tocante é sempre a questão dos sentimentos, os amores claros ou ocultos, a dedicação, o acreditar, a ideia de necessidade... Teria sido necessária aquela representação, naquele dia, naquelas circunstâncias? Não teria sido melhor cancelar o espectáculo? O espectáculo não tem sempre que continuar...

domingo, 18 de outubro de 2009

Andando...

Ontem, vi o filme japonês "Andando", agora, em exibição nas salas de cinema. Vale a pena ver, por muitas coisas, sobretudo pelo que nele há de universal - os sentimentos, o sofrimento, a perda, as relações familiares, as subtilezas, o não dito, o silêncio, as nódoas negras que todos transportamos ... - mas, também os costumes e as marcas de uma cultura profunda.

sábado, 10 de outubro de 2009

Nobel da Paz

Fiquei contente com a atribuição do prémio, como não podia deixar de ser. Tem sido assinalado, no prémio, uma vertente, uma intencionalidade, notória, de condicionamento de Obama, ou seja, do mundo e dos valores que ele defende e representa. Parece-me verdade, e isso é mal? Julgo que não, precisamos todos, a América e o mundo, que Obama não falhe.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tocar o sublime, senti isso

Muitas vezes damos de caras com algo que não podemos descrever, por ultrapassar tudo; com algo que não podemos pensar, porque o que nos atinge, naquele instante, é da ordem do novo, dum tempo inicial, seja ele qual for. Senti isso, na 4ª feira passada, quando, viajando pela ilha da Madeira, à saída de mais um dos incontáveis túneis, quando se vira para a Ribeira Brava, dou, de repente, com duas altas montanhas, que quase se tocam, um desfiladeiro profundo, um verde que me pareceu muito escuro, atravessado por um nevoeiro às vezes ténue e às vezes denso, naquele manhã chuvosa de Outono. Não há mistérios, numa paisagem tão humanizada como esta, só para o visitante desprevenido, disposto a deixar-se invadir por dentro.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Outro:quem é?

O que vou contar, passou-se no intervalo de um espectáculo a que assistia, no teatro D. Maria II, em Lisboa, cerca das onze da noite, numa quinta-feira do mês de Agosto. Na varanda do teatro que dá para a praça do Rossio, um bar em funcionamento, uma esplanada com pessoas, algumas delas turistas.
Nas escadas, alguns sem abrigo: um compõe os cartões onde dormirá, alguns dormem já, um está deitado em cima do muro da varanda com uma perna suspensa... Os empregados do bar atendem as pessoas, umas sentadas à mesa, outras já de pé, preparadas para regressar a casa ou ao quarto de hotel.
Entretanto, os carros continuam a passar, a vida segue, como se tudo estivesse bem, como se tudo fosse normal, como se não escutássemos "gritos"...
A noite dará lugar ao dia, na eternidade do tempo, em que acontecem todos os momentos e se fazem e desfazem todas as vidas. Mas não há desculpa, todos vimos. Quem são estes seres humanos? Que derrotas, vitórias, desejos e sonhos carregam?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O desemprego

Ontem, uma jovem dirigia-se a Jerónimo de Sousa, dizendo: "Estou doente, tenho uma depressão, não posso trabalhar, pedi o rendimento mínimo de inserção e não mo deram. Como vou alimentar os meus dois filhos? Como vou viver"?

O senhor presta-lhe atenção, fala-lhe, porventura, relembra o compromisso do seu partido com o povo e os que mais precisam...

Há por todo o lado dramas iguais a este, e quem pode não faz o suficiente. Andamos aturdidos, tal é o barulho, não se discute, nem leva a sério, com a radicalidade que é exigida, a questão do trabalho, um direito humano de primeira ordem. Quantos direitos caem por terra, quando se perde o emprego!