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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tocar o sublime, senti isso

Muitas vezes damos de caras com algo que não podemos descrever, por ultrapassar tudo; com algo que não podemos pensar, porque o que nos atinge, naquele instante, é da ordem do novo, dum tempo inicial, seja ele qual for. Senti isso, na 4ª feira passada, quando, viajando pela ilha da Madeira, à saída de mais um dos incontáveis túneis, quando se vira para a Ribeira Brava, dou, de repente, com duas altas montanhas, que quase se tocam, um desfiladeiro profundo, um verde que me pareceu muito escuro, atravessado por um nevoeiro às vezes ténue e às vezes denso, naquele manhã chuvosa de Outono. Não há mistérios, numa paisagem tão humanizada como esta, só para o visitante desprevenido, disposto a deixar-se invadir por dentro.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Outro:quem é?

O que vou contar, passou-se no intervalo de um espectáculo a que assistia, no teatro D. Maria II, em Lisboa, cerca das onze da noite, numa quinta-feira do mês de Agosto. Na varanda do teatro que dá para a praça do Rossio, um bar em funcionamento, uma esplanada com pessoas, algumas delas turistas.
Nas escadas, alguns sem abrigo: um compõe os cartões onde dormirá, alguns dormem já, um está deitado em cima do muro da varanda com uma perna suspensa... Os empregados do bar atendem as pessoas, umas sentadas à mesa, outras já de pé, preparadas para regressar a casa ou ao quarto de hotel.
Entretanto, os carros continuam a passar, a vida segue, como se tudo estivesse bem, como se tudo fosse normal, como se não escutássemos "gritos"...
A noite dará lugar ao dia, na eternidade do tempo, em que acontecem todos os momentos e se fazem e desfazem todas as vidas. Mas não há desculpa, todos vimos. Quem são estes seres humanos? Que derrotas, vitórias, desejos e sonhos carregam?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O desemprego

Ontem, uma jovem dirigia-se a Jerónimo de Sousa, dizendo: "Estou doente, tenho uma depressão, não posso trabalhar, pedi o rendimento mínimo de inserção e não mo deram. Como vou alimentar os meus dois filhos? Como vou viver"?

O senhor presta-lhe atenção, fala-lhe, porventura, relembra o compromisso do seu partido com o povo e os que mais precisam...

Há por todo o lado dramas iguais a este, e quem pode não faz o suficiente. Andamos aturdidos, tal é o barulho, não se discute, nem leva a sério, com a radicalidade que é exigida, a questão do trabalho, um direito humano de primeira ordem. Quantos direitos caem por terra, quando se perde o emprego!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Para quê um blog?

Este blog dura há um ano. Aqui, escrevi pequenos textos, essencialmente, sobre questões de direitos humanos. Passado este tempo, pergunto-me: - será que algum deles foi lido? Talvez sim, talvez não. Apenas, registei três comentários, o que prova, no meu caso, que mais vale conversar com a minha vizinha do lado ou telefonar a uma amiga a dizer duas coisas, que escrever num blog. É verdade que só falei dele a duas ou três pessoas, é verdade que não domino a técnica, é verdade que não me movo na blogosfera (nem sequer sei bem o que é), mas isso não justificará a completa falta de eco. A justificação talvez esteja no facto da Internet poder ser o lugar mais clandestino do mundo. Há nela uma demasia, uma desproporção, um excesso, que o humano não comporta, por isso, só funciona em pequenas "paróquias", onde todos se ouvem uns aos outros, aliás, escrevem uns para os outros. Admito que muita da minha descrença seja ignorância. Talvez. Mas, por agora o blog acaba aqui.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O inferno de Gaza, pior parece já não ser possível

Estamos sempre no ano zero, o ser humano não aprendeu (não aprende) nada, apesar de séculos e séculos de história, de filosofia, de ciência, etc., etc. Odiamos e matamos como sempre fizemos, apenas muda o fuzil, e infelizmente para pior, com as armas de hoje, a barbárie e a destruição são totais. Como é que se pode dizer qualquer coisa, quando não se protegem minimamente as populações civis? Estou tão cansada de instituições internacionais que não funcionam: obriguem Israel a manter abertos corredores de segurança para se poder garantir a ajuda humanitária. É o mínimo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Cruzar olhares

A questão da identidade é para mim uma interrogação profunda. Quem somos? O que fundamentalmente nos move? É verdade que aprendemos, desde crianças, a ver o mundo com os olhos da nossa cultura e isso condiciona a forma como sentimos e valorizamos o que nos rodeia. Muito do que somos, pela vida fora, está, ainda, nas experiências vividas e nas cumplicidades partilhadas, naquela rua, aldeia ou cidade da nossa infância, com a família, os vizinhos e os amigos, como se uma identidade familiar, cultural e social se nos colasse à pele e determinasse, em muito, o que somos.
É por isso que, frequentemente, olhamos o mesmo mas não vemos a mesma coisa e nem sequer lhe atribuímos o mesmo valor, por termos noções e sentimentos sobre o que consideramos ser o bem e o mal, o essencial e o acessório, muito distintos dos de outros grupos culturais. E é assim que, no mesmo espaço, às vezes, na mesma rua, no mesmo prédio, na mesma casa, encontramos diferentes modos de valorizar e de compreender as situações, e isso influi nas escolhas e nas opções de cada um. Portanto, o que incomoda não são os diferentes modos de sentir e de olhar, o que incomoda é a incapacidade de olharmos no mesmo sentido e de partilharmos esses olhares.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Guerra, indecência humana

Caem bombas na Faixa de Gaza como já antes caíram em muitos e muitos lugares do mundo. O espectáculo da maldade humana precisa sempre de um palco ou de vários ao mesmo tempo - Iraque, Afeganistão, Congo, Somália, Zimbabué, etc. Nada a fazer. Parece impossível resolver de uma vez a questão da violência entre seres humanos.
Neste conflito, como em todos os outros, não há os bons e os maus, os que têm e os que não têm razão. Todos são culpados. Sabemos disso, daí que seja tão difícil analisar com o mínimo de objectividade qualquer conflito.
Ainda assim, a paz parece ser algo que, aparentemente, querem e desejam. Mas então por não a constroem? Por que razão buscam sempre um inimigo?
Eu por mim não sou capaz de uma resposta. Dói-me pensar que nos ataques a Gaza, aliás, como quase sempre, a política dos interesses mais mesquinhos se imponha. Dói-me pensar que mulheres, como a ministra dos negócios estrangeiros de Israel, estruturem a sua vida pública por puro calculismo político. Se conseguirem destruir completamente o Hamas com o mínimo de baixas nas tropas israelitas, mesmo que ao mesmo tempo tenham destruído parte de um povo inocente, pode ser que o prémio seja a vitória nas próximas eleições e ela se torne 1ª ministra. E o mundo olhará para ela como?