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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Os números que dão para tudo

Hoje soube-se que o desemprego em Portugal subiu em 2007. Mas depois, vêm os que entendem de estatísticas e falam dos números conforme lhes convém, é esquisito ver como os números dão para tantas leituras. Para uns nunca se esteve tão mal, para outros que não, que estamos no bom caminho, porque o que se tem é de comparar é o último trimestre com o período homólogo do ano anterior, enfim... Mais de quatrocentas mil pessoas no desemprego, sem direito ao trabalho , com a sua vida parada ou à deriva. Quantos créditos por pagar! Quantas penhoras! Quantas expectativas frustradas! O custo pessoal e social de tudo isto tem de ser uma enormidade.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Outra vez Timor

O que há a fazer? Não podemos falar em democracias a funcionar, quando o grau de pobreza, de miséria e de falta de esperança são tão grandes para a maioria esmagadora da população, nomeadamente para os jovens. Claro que a resposta é política, claro que não questionamos a honestidade de alguns políticos, de muitas organizações internacionais e de tantas ONG'S presentes no terreno, mas, então, por que razão não conseguem uma situação de estabilidade mínima, apesar das forças militares e de segurança estrangeiras?
Outra vez um Estado sitiado e o povo à espera. À espera de sobreviver, de poder fazer coisas simples, como semear uma horta ou andar em paz pelas ruas. Ainda se vai descobrir que a resposta à violência está em grande medida na resposta que formos capazes de dar ao desenvolvimento, baseado em ideias simples e em ajudas consistentes com as pessoas e os locais. O microcrédito já começou a provar isso, porque não humilha a pessoa de mão estendida à espera de uma esmola, ao contrário, puxa pela sua auto-estima, ao dizer: acredito em si e no seu trabalho, por isso lhe empresto sem juros este dinheiro que me devolverá conforme as possibilidades que tiver. Mas claro, como é que os que ganham milhões e milhões e fazem tudo para ganhar ainda mais, entendem isto? Nunca entenderão.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Não poder olhar o rosto

A Holanda acaba de proibir o uso da burka , mesmo sendo apenas 150 as mulheres a usá-la naquele país, onde vivem cerca de oitocentos mil muçulmanos. Nem que fosse apenas uma, a lei seria igualmente importante, o que se trata aqui é de reconhecer que não podemos relacionar-nos com os outros, sem perder aspectos da nossa humanidade, se estamos impedidos de os olhar no rosto. É a própria identidade individual que está em causa, e nada há de mais fundamental, nenhuma crença, nenhum sentimento, nenhuma tradição. Ou será que há? O que faz com que pessoas educadas na Europa, vivendo em ambientes sociais livres e respeitadores dos direitos humanos, se sujeitem a isto? Há, porventura, algo da ordem da convicção profunda, onde a razão nem sequer espreita, que nos escapa. Eu por mim não entendo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Treinados para morrer e matar

Uma reportagem da CNN mostrava um grupo de meninos, no Afeganistão, a quem a Al-qaeda treina para futuros terroristas ou mártires (depende do ponto de vista, como se sabe). Armados e encapuzados, como se fosse necessário, desde o primeiro momento, perder a relação como outro, com os outros, ficando o mais possível indistintos, despersonalizados, aprendem técnicas de terror.
Como se sentirá um menino de arma na mão a quem ensinam a matar ao mesmo tempo que lhe falam de um Deus? Será que é capaz de sentir ou já não sente? Voltará à noite a casa, jantará com os pais e os irmãos, alguém lhe dará um beijo de boa noite? Voltará a rezar a Alá antes de adormecer?

O uso de meninos pelos mandantes da guerra não é novo; a maldade humana também não, e o pior é que não cessa por decreto. Ainda que parcial, porque sempre o mal estará à espreita, é outra a resposta: racionalidade, justiça, desenvolvimento, educação, etc. Todos sabem disto.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Quando a escolha é impossível

Uma mulher francesa converteu-se ao islamismo para poder casar com um engenheiro da Arábia Saudita, com quem teve dois filhos. Foi, porventura,uma bonita história de amor e, quando é assim, nada mais há a dizer. Acontece que o senhor morre e ela quer voltar para França com os filhos. Parece uma coisa razoável, mas acontece que pela lei islâmica é à família do marido que cabe prover ao sustento dela e dos filhos. Desenha-se um imenso conflito: submeter-se e ficar ou deixar os filhos e partir sozinha. Mas como se pode escolher entre estas duas alternativas? Quantos direitos aqui estão violados? Como pode uma tradição religiosa sobrepor-se ao direito humano de cada um viver livremente como entender e onde quiser?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Lá longe, a escola

Ontem comecei a ver uma reportagem na SIC sobre o analfabetismo e fiquei tão perturbada que fechei a televisão. Não consegui ver. Na verdade, a miséria é uma bola de neve, um problema traz outro, e outro, e mais outro ... e a dado momento a quase impossibilidade de reacção.
Aquelas imagens, de uma jovem mãe com uma filha ao colo, junto à barraca onde mora, são um quadro que nos devia incomodar a todos, pois não chega dizer que pagamos impostos (os que pagam), mas devia sobretudo incomodar, dar pesadelos, a quem tem o poder e a obrigação de fazer alguma coisa mais e não faz.

Como estamos longe de uma escola para todos, por mais que as leis e os discursos digam o contrário!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Têm um diploma, e agora ...

É grande a discussão sobre a equidade dos sistemas educativos, a própria Comissão Europeia se tem referido a isso. Há quem entenda que há uma incompatibilidade teórica entre equidade e eficácia e, portanto, mais valeria um sistema rigoroso, selectivo, em vez de um facilitismo generalizado e um descrédito social nos diplomas e na própria instituição escolar, o que a longo prazo se voltará contra aqueles que agora o sistema pretende beneficiar. Outros entendem que nunca a eficácia se pode sobrepor à equidade e argumentam a favor duma complementaridade, a partir do princípio da diferença de Rawls.
Aparentemente também nós estamos aqui: temos um sistema equitativo que diferencia em benefício dos mais desfavorecidos, com o objectivo de incluir toda a gente. Isto tem notoriamente eficácia interna - diminue o abandono e o insucesso escolares e eleva o nível de escolarização dos portugueses -, mas terá igual eficácia externa? Terão os diplomas a credibilidade necessária? Haverá respostas para o futuro dos jovens ?

É que uma escola justa não pode ser geradora de outras e maiores desigualdades.