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quarta-feira, 25 de março de 2020

De mãos dadas - Poema de Carlos Drummond de Andrade


(Em tempos difíceis, publico poemas) 

De mãos dadas

«Não serei um poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho os meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
  
Não serei cantor de uma mulher de uma história,
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente».

(Carlos Drummond de Andrade)




terça-feira, 24 de março de 2020

A pandemia assusta

Dada a situação atual, parece que todos somos potenciais portadores do vírus. Já não nos olhamos da mesma maneira. A vida alterou-se por completo, até, nas aldeias pequenas, com meia dúzia de pessoas. Mas, temos de comprar alimentos, medicamentos e fazer outras coisas inadiáveis. Temos de quebrar o isolamento e ficar expostos, mais ou menos, ao que nos pode acontecer, apesar, de todos os cuidados.
Percebemos, agora, como ninguém é autossuficiente, como ninguém se pode isolar de todos e de tudo. Percebemos, também, quão precária é a nossa saúde a nossa vida.

quinta-feira, 19 de março de 2020

A pandemia do novo coronavírus


Vemos bem, com a atual crise pandémica, várias faces da globalização: há gente de todos os sítios em todo o lado; há bens essenciais de que dependemos, por exemplo, para fabricar medicamentos, do outro lado do mundo, na China. Tudo está interligado.
A Europa pareceu adormecida, julgando que o vírus não chegava cá ou não teria o impacto que está a ter. Os sistemas de saúde, até os mais avançados, revelam-se impotentes. Ronda a exaustão e a morte. É triste.
O pior, é que estamos longe de saber o que vai acontecer; temo que seja longa esta crise e que à epidemia do vírus se juntem o medo e a ansiedade e tragam, a muitas pessoas, complicações a outros níveis de saúde.
Por mim, cumprirei o que as autoridades de saúde e de outras instituições do Estado ordenarem. Parece não restar outra coisa.


segunda-feira, 9 de março de 2020

Dia Internacional da Mulher

Ontem, 8 de março, foi o dia Internacional da mulher, na luta cívica de todos por direitos iguais.  Nas sociedades modernas,  democráticas..., a luta é já mais por atitudes e ações concretas do que por direitos; mas há sociedades, lembro as islâmicas mas há mais, onde a luta é ainda ao nível dos mais elementares direitos.

domingo, 1 de março de 2020

O discurso da extrema-direita


O atentado da semana passada, na Alemanha, levado a cabo, por um radical da extrema direita, num bar frequentado maioritariamente por turcos, com um discurso e um manifesto racista no computador, matou seis pessoas.
Neste clima de intolerância, ódio e xenofobia, começamos a achar normal o que acontece, aceitamos a desculpa de se tratar de um doente mental e já não reagimos com a força necessária. Deixamos passar discursos contra as minorias, os ciganos, os turcos, os gregos… porque não são e não vivem, neste caso, como os alemães entendem que devem viver.
Um dia qualquer, esta ideologia que já chegou à política e aos parlamentos europeus mostra do que é capaz. Não aprendemos nada com o nazismo e todos os totalitarismos.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

O racismo no futebol e no mais…


Sucessivos relatórios da ONU mostram que o racismo é a discriminação com maior incidência. É tão comum, que se banalizou e não parece incomodar-nos muito, a não ser que tome proporções públicas e mediáticas, como no caso de Marega, o jogador do futebol clube do Porto.
Se Marega, não tivesse abandonado o campo, nada de substantivo, em relação ao racismo no desporto, teria acontecido. Era mais uma tarde ou noite de atitudes e manifestações racistas, contra profissionais de futebol. Mas, Marega saiu, porque não aguentou mais.
Eu percebo, porque há um ponto, em que o individuo perde, de tal modo, a sua autonomia, a sua capacidade de fazer seja o que for, que a sua dignidade é atingida, ao ponto da humilhação. Humilhar, pisar em alguém, é o pior que há.
A humilhação é a desumanidade em último grau. Marega, não se deixou humilhar, até ao limite da impossibilidade de reação. Ainda bem que saiu. Os outros companheiros de equipa e respetivos dirigentes deviam ter feito o mesmo. Mas há lá valor mais importante que os três pontos no final do jogo! 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

A diretiva da Procuradora-Geral da República

A separação de poderes (legislativo, executivo e judicial) devia ser inviolável, nas democracias, mas parece que não é o que acontece.
A atual Procuradora-Geral da República, com a célebre diretiva que obriga os procuradores a cumprir o que o superior hierárquico determinar, sem que isso fique registado no processo, criou um inevitável mal-estar.
A novidade aqui é o não ficar registado. Por exemplo, no processo de Tancos, quando os procuradores quiseram ouvir o Primeiro-ministro e o Presidente da República e não o puderam fazer, por ordem superior, deixaram isso escrito no processo. A partir de agora, não o podem fazer, se a diretiva, entretanto suspensa, vingar.
Os políticos fazem as leis, mas não podem aplicar a justiça; aquilo a que estão obrigados é a criar as condições necessárias, para uma justiça que trate todos por igual. Se o poder político não dá meios, se não se investiga, e não pode haver nem arguidos nem condenados.
Desde 1994 que existe uma lei anticorrupção, em Portugal, mas de pouco valeu. Houve um Procurador-Geral, Pinto Monteiro, que se esqueceu que a lei existia. Só com Joana Marques Vidal se viu que os poderosos não estavam acima da lei; a atual procuradora parece retroceder nesta tarefa contra os corruptos, com diretivas deste género que diminuem a autonomia dos procuradores e tornam tudo mais opaco.