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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Imagens de Maomé


Repetem-se as manifestações contra as imagens publicadas numa revista francesa com o profeta Maomé, na sequência do que tinha acontecido com filme americano “A inocência dos muçulmanos”. Para nós, parecem despropositas, um exagero, tiques fundamentalistas... No entanto, há sempre matizes.
Obviamente que o argumento mais claro e mais forte é o de que a liberdade de expressão não pode ser posta em causa, não se pode deixar de dizer isto ou aquilo, por causa da reação dos muçulmanos, mas, também não se pode atentar de ânimo leve contra as convicções das pessoas. A religião é um direito humano, cada um pode acreditar no que entender, desde que conviva pacificamente com os demais. É isto que também está em causa. Portanto, sem abdicar dessa liberdade, não se devem criar provocações desnecessárias.  

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Santiago Carrilho

Morreu um velho comunista espanhol, Santiago Carrilho, com quase um século de vida, 97 anos. Carrilho foi um  revolucionário, um combatente anti-franquista, um exilado político por mais de 40 anos, mas é recordado sobretudo pelo seu papel na transição democrática, pela sua capacidade de dialogar, de acordar, de fazer consensos...   Posição que lhe valeu-lhe a expulsão do partido e outros dissabores,  ainda assim, mantém as ideias, o sentido de justiça, a crença de que outro modo  de organizar as sociedades é possível.

sábado, 15 de setembro de 2012

Eduardo Lourenço, um sábio

Eduardo Lourenço é um sábio. Sábio, mesmo.  Não porque leu muito, que leu; não porque escreveu muito, que de facto escreveu; mas porque pensa muito e  toca o essencial com um desprendimento que desconcerta. Outro dia, não sei já em que programa televisivo, dizia a uma jovem que em vez de ler muitos autores, se concentrasse num autor, como se lhe dissesse que a dispersão não ajuda ao pensar, ao pensar próprio, única coisa que ao limite interessa .

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Encontro em Goreia



Goreia, ilha frente a Dakar, funcionou como entreposto de escravos, durante mais de três séculos. Daí, entre quinze a vinte milhões de escravos devem ter embarcado em barcos negreiros, com destino à América, ao Brasil ou às ilhas do Caribe. Destes, mais de 6 milhões morreram na travessia, tal as condições miseráveis em que eram transportados, nos porões, como gado.
Partiam, deixando, tudo, atrás. Até o próprio nome, eram já números quando embarcavam e números quando chegavam aos cafezais, aos campos de algodão ou às plantações de açúcar. Aí, passavam a usar nomes americanos, se iam para a América, portugueses, se iam para o Brasil, ou espanhóis, se iam para o Caribe.
Ao serem roubados do nome africano, muitos descendentes destes escravos negros não sabem de onde vieram, nem como procurar as suas raízes, mesmo que o queiram fazer.
No entanto, há uma identidade africana, profunda, que permanece, mesmo que silenciosa. Uma noção de pertença que sobrevive a muito, a quase tudo, a séculos de exploração e de afastamento.
“Estou aqui pela primeira vez, mas é como se estivesse cá estado desde sempre, sou de África”, diz a jovem americana, integrante de um grupo de música afro jazz que junta músicos de diferentes origens – americanos, africanos, europeus… - para, juntos, reinventarem, uma alma, um espírito, que não exclua raças nem culturas.
“Onde estarão as minhas raízes? Talvez, estejam nalgum destes países da costa ocidental africana. Talvez, a minha tetra avó ou, antes dela, outro antepassado meu, tenha chorado nesse cais ao vir-se despedir do filho, do marido ou de outro familiar próximo”. Abeira-se dela uma jovem que lhe fala como se a conhecesse desde sempre: “ Olá, também sou cantora, também canto jazz” (não se sabe se sim, se não, pode ser uma estratégia de aproximação), mas que afinal resulta.
- Ah, sim!
- Sou a Amina, não esqueças, Amina. Sou daqui, de Dakar. E tu?
- Sou de Nova Orleães, Estados Unidos.
- Vou cantar uma canção para ti. Queres ouvir?
A americana faz gestos de incredibilidade, não esperava aquela atitude.
- É bonita – diz, sorrindo!
- Canta também uma música para mim – pede-lhe a africana de Dakar.
- Não, nunca canto fora dos espetáculos, só no duche.
- Canta, também cantei para ti.
Tenta lembrar-se de alguma canção e canta uns versos.
- Bonita, vais cantá-la no teatro?
- Não, esta não a canto, hoje, à noite. Cantei-a só para ti.
- Acabamos de nos conhecer e quem sabe se não nos voltamos a ver algum dia. O mundo é um “panuelo”, muito pequeno, podemos encontrar-nos. Talvez vá para a América, cante num clube de jazz e até no teu grupo…  
- Quem sabe, quem sabe...
A africana de Nova Orleães não quer acreditar no que acaba de lhe acontecer. Quando lhe perguntam o que se passou, não consegue dizer nada. Não tem palavras, algo se passou no seu encontro com Amina que não pode expressar. Não sabe expressar; um não dito, a está marcando por dentro.

(a propósito de um documentário a que assisti)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"O que será dos meus filhos", o filme

Emociono-me com frequência – sobretudo, com aspectos que têm a ver com a identidade profunda das pessoas, com sentimentos que não conseguimos explicar – mas não sou de chorar.  Nesse filme, contrariamente ao habitual, recordo ter chorado do princípio ao fim.
É um drama humano, no limite do suportável: uma mãe doente, cancerosa, muito religiosa (de resto, a paróquia é um apoio), que sabe que vai morrer muito proximamente e que procura um futuro para os filhos, que vê possível, entregando-os a famílias com possibilidades. Entrega um, dois, três, quatro…, mas há uma criança (ou talvez mais) deficiente que não é adoptada e acaba numa instituição.
Deixa com a filha mais velha as direcções de todos os irmãos, na esperança de que não se percam uns dos outros.  
Já na fase terminal, resiste a tomar uma certa medicação que lhe alivia as dores mas a torna inconsciente, alheada, incapaz de continuar a lutar pelos filhos.
Não recordo a figura nem o papel do marido, estaria ausente do filme, seria a senhora viúva?
Não sei, vi-o há muitos anos, e se o recordo hoje, é porque acabo de me cruzar com uma heroína semelhante à do filme, também em fase terminal, e que literalmente me reproduziu a frase: “o que será dos meus filhos”. Fico sem articular palavra, parece-me ouvir um coro de mães: “o que será dos meus filhos”. Haverá lá dor maior!

sábado, 21 de julho de 2012

Perda de direitos sociais

Há por todo o lado manifestações, depois de mais de trinta anos de avanço no estado de bem estar a Europa , sobretudo os países do sul, dá-se conta de que nada estava verdadeiramente adquirido, sustentado. Aí está a crise, os cortes, a austeridade, a desesperança, que é o pior de tudo, porque não se vê um fim à vista.  Ao contrário, a instabilidade é tanta que tudo parece um baralho de cartas prestes a desmoronar.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O regime de Damasco

É tal a forma como os ditadores vivem blindados que, a não ser que sejam traídos pelos seus, dificilmente caem. Bashar Al - Asad viu, ontem, cairem o ministro da defesa, um vicepresidente e outros altos quadros, num atentado suicida perpretado por alguém próximo.  Agora, já não há saída senão a violência generalizada, até à queda e fuga, senão for apanhado.  São tão míopes, estes senhores!