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sábado, 22 de janeiro de 2011

Veio para estudar, fugir de um destino

É uma menina de catorze anos. Corpo de adolescente, alta, magra, cabelo muito curtinho. O andar um pouco desajeitado, sempre de telemóvel na mão, um pouco agitada e com um olhar triste.
Está no colégio há menos de um ano. Veio, porque a tia achava que ela só brincava – diz-me. Veio para estudar, passou para a 6ª classe, mas com dificuldades enormes de leitura e escrita. Talvez, tenha vindo para não se perder numa qualquer estrada ou esquina da vida. Veio, porque precisava sair de um ambiente que não podia ajudá-la. Isso é certo.
Temendo que seja órfã e não sabendo até que ponto quer ou não falar sobre isso, nada pergunto, espero que fale, o máximo a que me atrevo é perguntar-lhe: “quantos irmãos tens”?
- “Tenho dois irmãos, eu sou a mais velha, eles são mais novos, vivia com a minha avó, os meus irmãos estão com os pais deles. A minha mãe morreu, o meu pai morreu, o meu avô morreu...”
Sinto um calafrio, até onde irá a lista que parece interminável? Fico em silêncio. O que sei eu?  Imediatamente, pensamos que foi a sida que os levou, mas talvez tenham morrido de malária, de desastre rodoviário ou de outra qualquer doença. A causa da morte não é indiferente, por estes lados, há um estigma, um não dito, que acompanha a vida destas crianças, cujos pais morreram de sida, como se, por não se nomear, tal doença desaparecesse. Ela carrega um grande sofrimento, mas não um destino. Por isso, está aqui.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A campanha eleitoral

Parece grande o desinteresse pelas eleições  presidenciais, apesar da crise, da dramatização e  de algum folclore, até. Votar é um direito e um dever de cidadania, ouvimos isto repetidamente.  Não é uma obrigação no sentido legal, cada um saberá o que fazer ou seja a questão é de consciência cívica individual. 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Nas ruas de Tunes

Há  uma emoção que tomou conta das ruas e da gente, há pessoas de lágrimas nos olhos, jovens que abraçam polícias, mulheres e homens que falam, reivindicam,  exprimem ideias, sentimentos...  Quando assim é, que mais há a dizer? Esperar, apenas, que os novos dirigentes não defraudem, mais uma vez, o povo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Tunísia, quando o povo não aguenta mais

A democracia é, em África, sempre, algo periclitante. Apesar de eleições, de instituições ditas democráticas, os "Presidentes" eternizam-se no poder, fazem do interesse público interesse próprio, criam clãs de amigos e familiares, dominam tudo, a política, a economia, os negócios, etc. Era o caso do Presidente tunisino, agora exilado na Arábia Saudita, há 23 anos no poder. Enquanto ele e uma minoria enriqueceu e roubou, o povo sobreviveu, esperou e desesperou. A revolta foi inevitável.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A violência, e tudo o mais

Habitam-nos demónios. Não sabemos quem somos. Há um limite, uma insuportável margem, que nos  coloca frente ao pior de nós. Uns conseguem  parar a tempo, outros não. O que aconteceu, naquele  quarto de hotel de Nova Iorque, é incomensurável. Triste e horrendo demais!  Há duas vítimas, eu vejo assim. De algum modo, até, todos somos vítimas.

sábado, 8 de janeiro de 2011

"ELE me chamou", a fé

“ELE me chamou”, diz-me um jovem que está a terminar o 12º ano, com um livro na mão sobre a vida e obra dos Franciscanos. ELE é o seu, o meu, o Deus de todas as pessoas que acreditam. Nenhuma demonstração ou experiência atesta a Sua existência, mas nada mais real para um crente. Acerca da fé, nada há a discutir. Nada há a dizer. Todos somos, antes de tudo o mais, aquilo em que acreditamos. São os valores, as crenças e os costumes que nos habitam que nos fazem pessoas e nos determinam a vida.

Tinha combinado encontrar-se comigo para falar de filosofia, embora já tivesse feito exame e ter a certeza de que ia ter positiva. Colocou-me uma questão de lógica, sobre silogismos hipotético-disjuntivos (a que eu não soube responder, há mais de doze anos que não toco nessa matéria), mas percebi logo que a conversa sobre filosofia era um pretexto, queria conversar sobre outras coisas. Falou de si, da sua vocação, de como tem clara a ideia de ser padre franciscano, falou-me de todo o percurso de formação, passando por várias cidades e até países, do extenso caminho e da profundidade do percurso que pretende iniciar. Agora, irá para o seminário de Chimoio, depois para o noviciado em Portugal, depois Roma,  Zâmbia…
Perguntou-me o que achava. O que ia eu achar, obviamente que não tenho nenhuma resposta, nenhuma opinião.  "A religião é uma coisa muito séria", comentei apenas para não ficar calada. Ele continuou a falar da certeza da sua escolha e eu  pus-me a pensar na determinação deste jovem, na sua convicção. Espero que o seu caminho não tenha muitas pedras. 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A loja solidária

Mais ou menos por todo o lado, aparecem lojas com uma função fundamentalmente solidária, a de ajudar os que precisam neste tempo de crise e de desastre social em que, todos os dias, damos mais um passo para o abismo.  Os que podem contar com os produtos, a um custo simbólico ou gratuitos,  têm oportunidade de aliviar, por algum tempo, o desespero em que vivem, mas só por algum tempo. As respostas sociais não podem ser de remedeio, têm de ter sustentabilidade. Estamos a caminhar, há anos, muitos anos, numa direcção que vai deixar marcas profundas, basta pensar no desemprego, nomeadamente o dos jovens, que ascende a 22 %, tenho entendido, na sua maioria jovens muito qualificados... Haverá pior sinal?