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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
De volta a Portugal
Regressei de Moçambique, ontem. Foi um mês rico em experiências pessoais. Não posso dizer que a viagem tivesse constituído para mim um choque, trata-se de uma realidade que, em muitos pontos, eu já imaginava, uma triste realidade comum a muitos países em desenvolvimento, onde, a par do maior luxo e da tecnologia de ponta, temos a luta incessante pela sobrevivência, nas condições mais precárias que se possam imaginar, é quase como se estivessemos no princípio dos tempos: a mesma palhota, feita com as mesmas folhas de coqueiro, a mesma machamba, o mesmo destino...
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Ser para o outro
Olhamos à volta no mundo conturbado dos nossos dias e muitas categorias e valores que, antes, julgávamos, para sempre, adquiridos começam a desmoronar. Passámos tempo demasiado, tudo submetendo à política e, ultimamente, submetendo toda a política à economia. Caímos nisto: uma recessão presente, e talvez futura, que põe em causa muitos direitos humanos. Precisamos, para não ir ao fundo, de uma nova radicalidade para o viver com os outros, capaz de criar fraternidade,justiça, sustentabilidade...
Apetece convocar Lévinas e a ética da responsabilidade por outrem. O ser humano antes de ser uma liberdade e uma razão, é uma responsabilidade. É a responsabilidade por outrem o que nos constitui como indivíduos únicos, insubstituíveis e nos realiza humanamente. São as respostas aos apelos e às solicitações do outro, o que verdadeiramente nos incumbe. Há aqui uma radicalidade fácil de perceber, mas difícil de levar à prática, sabe-mo-lo. .
Apetece convocar Lévinas e a ética da responsabilidade por outrem. O ser humano antes de ser uma liberdade e uma razão, é uma responsabilidade. É a responsabilidade por outrem o que nos constitui como indivíduos únicos, insubstituíveis e nos realiza humanamente. São as respostas aos apelos e às solicitações do outro, o que verdadeiramente nos incumbe. Há aqui uma radicalidade fácil de perceber, mas difícil de levar à prática, sabe-mo-lo. .
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Deve ser boa pessoa (2)
Não me enganei. Ao meio da tarde, recebi uma chamada sua a dizer-me que já tinha conseguido, iriam disponibilizar material escolar para o Internato das meninas de Inhambane. O que se abre no encontro com as pessoas é sempre uma surpresa, um mundo de possibilidades.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Deve ser boa pessoa
Acabo de falar com uma pessoa, responsável por uma loja de uma grande cadeia de distribuição, sobre a possibilidade de poderem doar algum material escolar para um orfanato em Inhambane- Moçambique.
Atendeu-me com uma disponibilidade invulgar, incomodada por ser tão em cima da hora, quando o normal, nestes casos, são pedidos com um mês de antecedência. "Mesmo assim vou ver o que posso fazer, espere aí, que vou lá dentro contactar pelo telefone uma colega que trata disso a nível central". Quando veio, com papel e caneta na mão disse-me: "não consegui falar com ela, ainda, está ocupada, mas deixe-me o seu contacto que eu vou ver o que posso fazer".
Muito obrigada - digo-lhe. "Não sei o que posso fazer, não prometo nada, mas gostava muito de ajudar". E, ao mesmo tempo que dizia isto, emocionou-se. E eu fiquei igual, quase sem articular palavra. Ganhei a manhã.
Atendeu-me com uma disponibilidade invulgar, incomodada por ser tão em cima da hora, quando o normal, nestes casos, são pedidos com um mês de antecedência. "Mesmo assim vou ver o que posso fazer, espere aí, que vou lá dentro contactar pelo telefone uma colega que trata disso a nível central". Quando veio, com papel e caneta na mão disse-me: "não consegui falar com ela, ainda, está ocupada, mas deixe-me o seu contacto que eu vou ver o que posso fazer".
Muito obrigada - digo-lhe. "Não sei o que posso fazer, não prometo nada, mas gostava muito de ajudar". E, ao mesmo tempo que dizia isto, emocionou-se. E eu fiquei igual, quase sem articular palavra. Ganhei a manhã.
domingo, 24 de outubro de 2010
Lá longe, em África
Não sei que fascínio África exerce sobre mim, mas exerce, por mais que isto seja um lugar comum. O que mais me fascina são decididamente as pessoas, aliás, nos primeiros tempos, nos primeiros contactos, quase não vejo as paisagens, quase não vejo os contextos. E, se posso, deixo-me conduzir pelo que vem dos rostos, pelas paisagens interiores daqueles seres humanos. Estarei em Moçambique todo o mês de Novembro e talvez escreva textos sobre o que aí acontecer, aqui ou num novo blog.
sábado, 23 de outubro de 2010
Vou consigo
Não sei quantos anos tem, mas aparenta menos de setenta. Encontrei-a, e começamos a conversar, porque íamos ambas apanhar um transporte público.
- A senhora vai para o metro? - perguntou-me. E sem que eu tenha tido tempo de responder, acrescentou: - eu vou apanhar o autocarro, não gosto de andar de metro, só se vou com a minha filha.
- Eu prefiro o metro porque é mais rápido, digo-lhe.
- É verdade, mas sabe para mim é muito confuso, eu sei ler, mas não sei ler bem. Só fui um ano à escola, já de adulta.
Fico a pensar: quantas pessoas ainda haverá, neste país, que não sabem ler? Quantas pessoas haverá com dificuldade de orientação no metro e noutros locais e situações por não saberem ler? Damos tudo por adquirido, por facilitado, e há ainda tantas barreiras...
A conversa continuou, muito interessante, até, esqueci-me do metro e também eu fui de autocarro.
- Hoje vou de autocarro, só porque a encontrei a si. Vou consigo.
- A senhora vai para o metro? - perguntou-me. E sem que eu tenha tido tempo de responder, acrescentou: - eu vou apanhar o autocarro, não gosto de andar de metro, só se vou com a minha filha.
- Eu prefiro o metro porque é mais rápido, digo-lhe.
- É verdade, mas sabe para mim é muito confuso, eu sei ler, mas não sei ler bem. Só fui um ano à escola, já de adulta.
Fico a pensar: quantas pessoas ainda haverá, neste país, que não sabem ler? Quantas pessoas haverá com dificuldade de orientação no metro e noutros locais e situações por não saberem ler? Damos tudo por adquirido, por facilitado, e há ainda tantas barreiras...
A conversa continuou, muito interessante, até, esqueci-me do metro e também eu fui de autocarro.
- Hoje vou de autocarro, só porque a encontrei a si. Vou consigo.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Quando tudo vale...
A multiplicidade de referências, aparentemente ilimitada, que os meios de comunicação, e particularmente a internet, põem na casa de cada um, não cria comunidade, proximidade, partilha e compromisso. Já ninguém luta por uma utopia, crescem, em vez disso, os individualismos, pessoais ou de grupo, com objectivos focados em que não se descortina o interesse geral. Tudo é efémero, precário, transitório, relativo. Mas se vale tudo e tudo se equivale, ao limite, nada vale. O vazio e o caos axiológico estão a uma curta distância.
Contudo, convém ter presente que nada é linear quando se trata de valores, há sempre contradições, paradoxos - por exemplo, a par da relatividade valorativa que caracteriza o mundo actual, crescem nalgumas sociedades os fundamentalismos mais exacerbados, sobretudo, os de natureza religiosa – e movimentos que levam à emergência de novos valores – diversidade, criatividade, ambiente, lazer, consumo, culto do corpo, competitividade … - que podem ou não tornar-se, no futuro, valores sedimentados, isso dependerá da discussão e da crítica que sobre eles fizermos no presente.
Contudo, convém ter presente que nada é linear quando se trata de valores, há sempre contradições, paradoxos - por exemplo, a par da relatividade valorativa que caracteriza o mundo actual, crescem nalgumas sociedades os fundamentalismos mais exacerbados, sobretudo, os de natureza religiosa – e movimentos que levam à emergência de novos valores – diversidade, criatividade, ambiente, lazer, consumo, culto do corpo, competitividade … - que podem ou não tornar-se, no futuro, valores sedimentados, isso dependerá da discussão e da crítica que sobre eles fizermos no presente.
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