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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Minaretes nas mesquitas
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Dia Internacional dos Direitos Humanos
Não é tudo possível!
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
O terror que não pára
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Casas à venda (6)
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Os desertores (4)
Não percebia por que jovens de dezassete, dezoito anos, alguns até menos, também fugiam a "salto", para França. Ficavam desertores, não podiam regressar, senão seriam presos. Mas que mal teriam feito? Por que tinham de deixar o país, de sair assim de junto das famílias?
Agora sei. Fugiam à guerra, à guerra colonial, de uma guerra de que eu nada sabia e talvez eles e as suas famílias também não, a não ser que lhes podia roubar a vida. Por causa da guerra de África, muitos pais ficaram anos a fio, décadas, sem ver os seus filhos. Só quando acabou a ditadura puderam regressar de novo. Mas alguns, sem apoio familiar, nessa grande Paris, mais ou menos perdidos nas encruzilhadas da vida (sim, porque sempre a má sorte bate à porta de alguém) acabaram por não voltar mais. Aos que chegavam, a pergunta era invariavelmente a mesma: - Viu por lá o meu filho? – Não o vi, mas sei que está bem. Estive com alguém que o viu.
E o coração daquela mãe, ou daquele pai, sossegava um pouco.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
A salto para a França (3)
Deixo aqui um relato mais ou menos imaginado vivido por muitas crianças, naquela época.
“Era alta noite, quando o pai foi ao seu quarto dar-lhe um beijo. Era um beijo de despedida, ele partia nessa madrugada a "salto" para a França. A menina nem sequer suspeitava o que era ir "a salto" para França, mas devia ser alguma coisa de mau, de perigoso, pois sempre que a mãe falava disso com a avó, fazia-o muito baixinho, quase em segredo. Desconfiada e a medo, na tarde desse dia, atreveu-se a perguntar:
- O pai vai embora?
- Cala-te, não digas a ninguém. Não digas a ninguém, ouviste bem!
- Mas, o pai vai para a França?
- Não, não vai. Cala-te!
Ela sabia o que estava para acontecer. Como não ia saber, tinha visto a mãe chorar pelos cantos, limpar as lágrimas a correr, quando alguém a via sofrer. Em toda a noite, não pregou olho. Esperava o pai, ainda que tivesse um desejo profundo de que isso não viesse a acontecer. Quando o pai abriu a porta do quarto, fingiu-se dormida, por não conseguir suportar a dor. A porta fechou-se e o mundo desabou. Como iriam viver sem o pai? Por que tinha ele de partir?
Não sabia nada das necessidades da sua família, não imaginava sequer. Tinha oito anos, como podia saber! Agora sabe, sabe que o pai, como tantos outros, fugia da miséria em que viviam. Iam à procura de dinheiro para alimentar as suas famílias, para mandar os filhos à escola, para fazer uma casa. Era assim.
Mas muitos não conseguiam passar as fronteiras. Na manhã seguinte, finalmente, a mãe tenta explicar-lhe porque é que o pai tem de ir embora e o que é ir a salto, e que talvez o pai nem sequer consiga chegar a França, talvez seja apanhado pelos guardas-fiscais ou pelos carabineiros, a polícia espanhola, logo na fronteira e tenham que regressar a casa.