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domingo, 15 de junho de 2008

A selva urbana

Como todas as frases que se aplicam a tudo, esta corre o risco de perder o sentido. Vi umas imagens do metropolitano de Paris - a suburbana linha 13 - que a partir das cinco e meia da manhã é já hora de ponta, com funcionários nas estações a empurrar as pessoas para se poderem fechar as portas, e quase fiquei em choque. O desumano da cena, comum a todas as grandes cidades, leva-me a pensar: caminhamos para onde? E se a gasolina continuar a subir, a subir, e mais, e mais, pessoas tiverem que andar de metro? Será a ruptura? Pensaremos então em novos modos de habitar os espaços?
Aprendemos tão pouco em tantos anos de civilização! Tantas incompatibilidades com o viver simples, próximo e solidário! Por mais que usemos a retórica, a realidade que criámos esmaga-nos.

sábado, 14 de junho de 2008

Todos os fundamentalismos reduzem o humano

Também não gostei de ouvir o Presidente da República referir-se à raça, mas não faço disso uma tempestade, até porque se tratou de uma gafe. É assim que eu vejo.
Estou contra os fundamentalismos, pela irracionalidade que muitas vezes contém e sempre pela pobreza que constituem, ao reduzirem o campo de conhecimento, de análise e de acção - aquilo que deve constituir a base da escolha individual - a uma resposta já feita, seja de natureza ideológica, religiosa ou outra.
Mas também me aborrecem, quase diría, os novos fundamentalismos, o daquelas pessoas "militantes", eu conheço algumas, que tem uma visão tão restrita que caem em atitudes que tocam o ridículo. Há tempos escrevi um pequeno texto, e alguém o corrigiu: onde eu tinha "os alunos", colocou " as alunas e os alunos", onde tinha "os professores", colocou "as professoras e os professores", onde tinha "os pais", colocou "a mãe e o pai", etc.
Observei: - isto prejudica a clareza do discurso.
-Mas tem de ser assim - disseram-me .
Em presença de tal correcção, perguntei: - então, é sempre o género feminino, antes?
- Não, a gente vai trocando, umas vezes "as" outras vezes "os".
Grande explicação, não percebeu nada do que lhe estava a querer dizer. Perante isto, desisti. O que ia dizer a quem tem da relação e da igualdade de género uma visão tão redutora? Nada. Por mim, não aceito fundamentalismos destes, porque o essencial não está aí, todos sabemos e essas pessoas também deviam sabê-lo. Mas se quiserem continuar, façam favor, mas já agora vejam se percebem que o mais importante é fazer tudo para que as pessoas não falhem nas suas atitudes e comportamentos, o mesmo é dizer, nos valores da estima, da igualdade e do respeito que devemos uns aos outros..

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Que loucura é esta!

Como se de uma catástrofe natural se tratasse, e como se os homens, os que dominam a política e a economia, não tivessem nada a ver com isto, aí está a falta de alimentos, a fome a espreitar, já não só em África mas em muitas outras partes do mundo e até nos países ricos, mas claro apenas para aqueles que nestes países são pobres, sem emprego, excluídos .
Parece que a civilização e o desenvolvimento, que julgámos imparável, dá mostras de ruptura, não é coisa que racionalmente não se possa compreender, não precisamos de profecias sobre o fim do mundo - já alguém disse que as próximas armas serão de novo os arcos e as flechas, tal o tamanho de destruição das que existem, e a fome é a pior. Será o regresso ao início, se houver inicio, não é seguro que haja.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Obama! Obama! Obama!

Olho Obama a declarar a sua vitória nas Primárias dos Estados Unidos, a abraçar a mulher, a dirigir-se à sua adversária, e penso: é uma pessoa especial, tem de ser, para isto ter sido possível, de vez enquando a humanidade é brindada com homens sábios, brilhantes, bons. Sei que Obama não vai decepcionar, tenho a certeza. Algo de novo acaba de acontecer.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Violência e Xenofobia

Nos últimos dias tem havido notícias sobre imigrantes de Moçambique, Zimbabué, Malawi ... saindo apavorados da África do Sul, onde uma onda de violência e de xenofobia varre os bairros e as ruas de algumas cidades, destruindo, queimando, matando. Triste ironia, os que antes eram segregados, segregam agora, com o mesmo ódio e a mesma indiferença estampados no rosto, não é nada que a história não tenha já mostrado inúmeras vezes. Triste natureza humana! Séculos de civilização de pouco adiantaram.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Bemba, na alçada do TPI

Prenderam, em Bruxelas, o senhor Bemba, antigo vice-presidente do Congo, há um ano a viver no Algarve. Com quantas mordomias privadas vivia, não sei, nem me interessa, interessa-me, isso sim, que polícias portugueses lhe tenham garantido a segurança, pagos com o dinheiro dos nossos impostos. É um caso claro de hipocrisia internacional ao mais alto nível: - não está fugido, não é refugiado, foi o responsável da ONU em Kinsasha que pediu a Portugal para o receber, nunca o TPI (Tribunal Penal Internacional) pediu a sua captura, etc. - diz o Ministro dos Negócios Estrangeiros português. Então, é o quê? Um híbrido que viveu sossegado e principescamente com o dinheiro que depositou em bancos europeus e a casa luxuosa que comprou na Quinta do Lago. Que importava o rasto de violência e de morte que semeou no seu país! Nada importou, mas devia importar, pois não chega ser oposição e dizer que o adversário é corrupto e assassino, é preciso mostrar que não se é igual, e ele não mostrou. Ainda bem que existe o TPI e começa a fazer o seu trabalho. Talvez muitos palácios europeus de ditadores africanos fiquem às moscas, eles sabem que se arriscam. Até que enfim!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Antiga Birmânia III

Finalmente, aquela Junta Militar, inclassificável, começa a deixar entrar a ajuda internacional, dias depois do Enviado Especial do Secretário Geral da ONU ter chegado ao país.
O mais incrível é que o fazem não preocupados com as mortes e as doenças dos milhares de vítimas mas por estratégia e sobrevivência próprias. De alguma coisa serviu a pressão internacional, classificando o que se passava como um crime contra a humanidade, sabemos que já, no passado recente, alguns ditadores pagaram por tal crime. Apesar de tudo, ainda bem.