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domingo, 13 de dezembro de 2009

A propósito da Cimeira de Copenhaga

Acredito pouco nestas e noutras cimeiras de boas intenções, compromissos de circunstância e pouco mais. Mas se não ocorressem seria ainda pior, porque elas são oportunidade para pensarmos sobre as questões reais - o clima é sem dúvida uma delas - e também nalguns mitos.
Um deles é o da tão falada cidadania global, dando a entender que todos somos cidadãos do mundo. Não é exacto, como sabemos, há muita gente fora dessa globalização, desde logo, todos os que vivem abaixo de um determinado nível de desenvolvimento e sem igualdade de oportunidades, quer vivam em países subdesenvolvidos quer vivam nas margens do mundo rico, onde o crescente aumento do desemprego veio pôr a nu muitas fragilidades.
É preciso tirar as devidas consequências, saber que não há cidadania global sem resolver a questão da justiça e do desenvolvimento; sem levar a sério a solidariedade e a interdependência entre todas as pessoas e todos os povos, vivam na nossa rua ou num qualquer lugar do globo, isso passa por criar relações de simetria e de apoio mútuo, onde todos ocupem o centro. Estamos longe, muito longe, mesmo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Minaretes nas mesquitas

Na Suíça, uma maioria, em referendo, decidiu proibir, a partir de agora, a construção de minaretes nas mesquitas, acto que me parece semelhante a proibir os sinos nas igrejas católicas. O que aqui importa é o passo atrás na liberdade religiosa que as democracias têm vindo a assegurar; é o passo atrás no que respeita ao direito de cada pessoa poder escolher livremente a sua religião, de mudar se assim o entender e de a praticar sozinho ou em grupo (art. 18º da DUDH). O conflito existe, é visível, já teve outras manifestações, recordemos a proibição do uso do véu islâmico, nas escolas públicas francesas, há uns anos atrás. Não se esbaterá por nenhuma lei a favor ou contra do que pensam uns e outros; a questão é de disponibilidade, abertura, diálogo, valorização recíproca ..., e isto é uma aprendizagem lenta, mas que as sociedades de hoje, cada vez mais heterogéneas, também a nível religioso, não podem descurar.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Dia Internacional dos Direitos Humanos

Em 10 de Dezembro de 1948, em Paris, é proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Trinta princípios universais para garantir a todos os seres humanos a sua dignidade. Muito já se fez e muito caminho falta percorrer, o compromisso tem de ser de todos, dos Estados, governos, organizações nacionais, internacionais, públicas e da sociedade civil... , na certeza de que não se trata de um adquirido, é preciso lutar todos os dias pela defesa dos direitos humanos, mesmo no quotidiano pessoal de cada um de nós.

Não é tudo possível!

A deputada Maria José Nogueira Pinto chamou, no Parlamento, na Comissão de Saúde, "palhaço" e "inimputável" a um deputado do PS. Não o conheço, não sei quem é, mas esta senhora sim, é conhecida de há muito e, por qualquer iluminação, acha que pode dizer o que lhe vem à cabeça, enerva-se com os apartes e desatina. Não vá para a política. Como é que pode representar alguém? Claro que o outro senhor também disse o que não devia, mas em resposta à senhora, em resposta a um insulto, não só pelo adjectivo usado mas pelo modo como falou. Onde fica o respeito? Se ela não pedir desculpas, se não houver consequências, ficamos a saber a que ponto chegou a política portuguesa, arrastada para tão baixo, por estes tristes políticos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O terror que não pára

Ontem, mais cinco explosões, em Bagdad, 127 mortos, mais de 500 feridos e tudo o que isto significa, a impossibilidade duma segurança mínima, sem a qual todos os direitos estão postos em causa. Sei que o problema é global, que uma bomba pode explodir em qualquer lugar do mundo, mas há lugares e lugares, e países como o Iraque, o Paquistão e o Afeganistão parecem em descontrolo absoluto, por mais tropas americanas, da Nato, etc. Há no invisível destas sociedades, no seu fundamento, algo que escapa à análise ocidental, que escapa às categorias racionais com que pensamos o mundo, mas seja isso o que for, não pode desconsiderar desta maneira a vida e a dignidade humanas. Voltámos a que trevas da história?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Casas à venda (6)

Algumas das casas novas (agora, menos novas, mas quase nunca usadas) há muito que deixaram de ser abertas. Quem as construiu, quem fez o poço, plantou as árvores, arranjou os canteiros do jardim e a horta, já não está. Os que ficaram já não se sentem daqui, pelo menos não o suficiente para manterem essa ligação muito ténue e frágil que só existia por causa dos pais.Muitos já deixaram e outros deixarão de vir, cada mês de Agosto. Querem, quase com um sentimento de urgência, desfazer-se, a qualquer preço, do que aqui têm, pôr à venda pelo que seja, desfazer todos os laços, colocar um ponto final. Nada os identifica, nada os prende, querem ficar livres de obrigações, de contas certas para pagar de água, luz, impostos….Vender é a opção que vêem como mais vantajosa. Mas, nem sempre têm a noção dos preços, julgam que tudo é muito desvalorizado, não dão o devido valor, vendem às vezes por um preço irrisório. Há mesmo casos, em que é tal o desprendimento que vendem as casas com tudo o que têm dentro, as mobílias, a loiça e até os objectos pessoais. Não deixa de ser estranho. Remexidos os móveis, a casa será de novo habitada, ganhará de novo vida, outra alma, será alegre, triste ou bem-disposta, à imagem do novo morador, mas guardará para sempre nos seus segredos a memória boa de quem, com tanto entusiasmo, carinho, luta e em muitos casos sacrifícios a desejou, planeou, construiu e habitou nem que fosse por curtos períodos de férias. A casa já não é a mesma casa. Foi assim que teve de ser, dizem. Se calhar, sim.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Os desertores (4)

Não percebia por que jovens de dezassete, dezoito anos, alguns até menos, também fugiam a "salto", para França. Ficavam desertores, não podiam regressar, senão seriam presos. Mas que mal teriam feito? Por que tinham de deixar o país, de sair assim de junto das famílias?
Agora sei. Fugiam à guerra, à guerra colonial, de uma guerra de que eu nada sabia e talvez eles e as suas famílias também não, a não ser que lhes podia roubar a vida. Por causa da guerra de África, muitos pais ficaram anos a fio, décadas, sem ver os seus filhos. Só quando acabou a ditadura puderam regressar de novo. Mas alguns, sem apoio familiar, nessa grande Paris, mais ou menos perdidos nas encruzilhadas da vida (sim, porque sempre a má sorte bate à porta de alguém) acabaram por não voltar mais. Aos que chegavam, a pergunta era invariavelmente a mesma: - Viu por lá o meu filho? – Não o vi, mas sei que está bem. Estive com alguém que o viu.
E o coração daquela mãe, ou daquele pai, sossegava um pouco.