Há dois dias, uma criança de oito anos morreu, quando os assassinos - extremistas talibãs - que a armadilharam, a fizeram explodir por controlo à distancia. Estava destinada a fazer explodir uma esquadra de polícia, mas por erro de cálculo não chegou lá. Haverá alguma coisa mais terrível do que armadilhar crianças, usando-as para cometer actos terroristas? Na semana passada, outra criança tinha sido armadilhada para matar pessoas num mercado da cidade, foi felizmente desarmadilhada a tempo, evitando-se a explosão, mas não o medo que vimos nos seus olhos. Actos como estes mostram bem até onde pode ir a maldade humana.
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quarta-feira, 29 de junho de 2011
quinta-feira, 23 de junho de 2011
(Des)medida
"Dizem os sábios que um dia vos apagareis" - gritou o pirilampo às estrelas.
As estrelas não responderam.
(Tagore)
As estrelas não responderam.
(Tagore)
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Todos lhe querem bem
- Artur está connosco há catorze anos, para mim é como um pai, vejo-o como um pai. Quando ficou connosco estava sozinho no mundo, não tinha ninguém, andava sempre "borrachinho", fumava e bebia, fumava e bebia, quase não falava, ainda agora quase não fala... Começou a ficar magrinho, cansado, quase sem se poder arrastar, disse para a minha irmã: o Artur tem algum mal ruim. Foi ao médico, mandaram-no fazer exames, e o que se temia confirmou-se: cancro nos pulmões. A doença dele está a dar cabo de mim, não aguento, até o meu marido, quando lhe disse do Artur, chorou, estou casada há dezasseis anos e nunca o tinha visto chorar. Sabe, Artur é especial, deixa-se querer, como hei-de explicar isto..., é bom, todos lhe querem bem, já disse aos meus filhos pequenos: não arreliem o Artur que ele está muito doentinho. Trato-o o melhor que posso, vou fazer tudo o que puder por ele.
E fez, mas Artur não sobreviveu. Morreu dois meses depois. Será que alguma vez soube o quanto era amado por esta família de feirantes, que ganhava a vida de feira em feira, explorando o negócio de uma pista de carros eléctricos?
(Sobre um documentário passado na RTP2)
E fez, mas Artur não sobreviveu. Morreu dois meses depois. Será que alguma vez soube o quanto era amado por esta família de feirantes, que ganhava a vida de feira em feira, explorando o negócio de uma pista de carros eléctricos?
(Sobre um documentário passado na RTP2)
domingo, 19 de junho de 2011
Leram árabe para mim
Vivem perto de Lisboa, frequentam escolas públicas e também aprendem a ler árabe, numa espécie de cartilha, para aprenderem o Alcorão, nas madraças junto da mesquita. Andam dois ou três anos a aprender o árabe básico, a língua, as palavrinhas, o vocabulário.... As madraças são escolas de catequese, abertas uma ou duas horas por dia, frequentadas por meninos, até aos dez, onze anos, que memorizam o Alcorão, ritmadamente, com gestos próprios, inclinando-se sincronizados. Aprendem, ainda, a moral e um pouco da história da religião. Fico a pensar no sentido e na importância das crenças que todos temos. Recuo à minha infância, às minhas lições de catequese, aos dias sem perguntas difíceis.
sábado, 18 de junho de 2011
O gémeo subnutrido
Estava ali, embrulhado num pano roxo, nu, à espera de morrer desnutrido, quando o médico da região, que conhecia o caso, e alguém da Cruz Vermelha o vieram libertar da morte. O médico que o tinha atendido no posto local pergunta à mãe:
-Por que não foi à cidade internar o seu filho? Dei-lhe as guias para ser visto no hospital e ser integrado no programa alimentar.
- O meu marido disse que não valia a pena – cala-se, olhos no chão, e prossegue – não tenho dinheiro para o transporte. Como são gémeos, não tenho leite para os dois, um vai ter de morrer.
- Vai ter de morrer?
- É assim, o que sempre acontece, sem possibilidade de serem alimentados devidamente.
- Não, vamos salvá-lo.
Convencida a família, que resiste, porque o marido está fora e precisam da sua autorização, caminham para o hospital, pensando na possibilidade de salvação para aquela criança, tão pequena, quase recém nascida.
É internada e observada por um enfermeiro entendido em situações semelhantes. Ele faz uma expressão de alegria e todos respiram de alívio.
- Tem boas possibilidades de se reabilitar - deu-lhe imediatamente um medicamento - ficará internada por semanas e entrará no plano de alimentação tal como o irmão gémeo.
Este bébé livrou-se da morte certa, por um acaso, num dia em que uma equipa estrangeira, em reportagem pelas longínquas aldeias do Níger, se depara com este cenário, demasiado comum, infelizmente: uma família assistindo à morte lenta de um dos seus filhos, porque a mãe não pode alimentar os dois e não têm dinheiro para adquirir leite de substituição.
-Por que não foi à cidade internar o seu filho? Dei-lhe as guias para ser visto no hospital e ser integrado no programa alimentar.
- O meu marido disse que não valia a pena – cala-se, olhos no chão, e prossegue – não tenho dinheiro para o transporte. Como são gémeos, não tenho leite para os dois, um vai ter de morrer.
- Vai ter de morrer?
- É assim, o que sempre acontece, sem possibilidade de serem alimentados devidamente.
- Não, vamos salvá-lo.
Convencida a família, que resiste, porque o marido está fora e precisam da sua autorização, caminham para o hospital, pensando na possibilidade de salvação para aquela criança, tão pequena, quase recém nascida.
É internada e observada por um enfermeiro entendido em situações semelhantes. Ele faz uma expressão de alegria e todos respiram de alívio.
- Tem boas possibilidades de se reabilitar - deu-lhe imediatamente um medicamento - ficará internada por semanas e entrará no plano de alimentação tal como o irmão gémeo.
Este bébé livrou-se da morte certa, por um acaso, num dia em que uma equipa estrangeira, em reportagem pelas longínquas aldeias do Níger, se depara com este cenário, demasiado comum, infelizmente: uma família assistindo à morte lenta de um dos seus filhos, porque a mãe não pode alimentar os dois e não têm dinheiro para adquirir leite de substituição.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Casamentos forçados, não queriam casar
Viviam lá bem no sul da Guiné-Bissau, numa zona onde as tradições familiares são pesadas, mesmo que tenham passado os anos e a vida tenha trazido novos saberes e novos mundos. Há pontos intactos, rituais e tradiçõs ancestrais que se cumprem como desde sempre, com medo de feitiços, de desgraças, de ficarem mal faladas...
Estes casamentos forçados, quase sempre com homens muito mais velhos, deixam as jovens em profundo desespero, cercadas por um compromisso familiar, impedidas de tudo, de ser quem são, de se desenvolverem como devem, de ser pessoas inteiras, de irem à escola, de brincarem, de escolherem. Muitas têm apenas uma saída, fugir das famílias, para muito longe, quase sempre para a capital.
Estes casamentos forçados, quase sempre com homens muito mais velhos, deixam as jovens em profundo desespero, cercadas por um compromisso familiar, impedidas de tudo, de ser quem são, de se desenvolverem como devem, de ser pessoas inteiras, de irem à escola, de brincarem, de escolherem. Muitas têm apenas uma saída, fugir das famílias, para muito longe, quase sempre para a capital.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
O desmoronar da Grécia
Assistimos às imagens da greve geral, aos confrontos com a polícia, e vemos no ar um misto de desespero, de baixar os braços, como que a adivinhar a queda. Mas de que cai a Grécia? De que caem os gregos? São todos culpados ou há uns mais culpados do que outros? Sempre se construiram e desmoronaram impérios, sempre se fizeram e desfizeram civilizações, por poder e ganância, sempre se espalharam as guerras e os infortúnios...
Hoje, parece claro que só mudaram as tropas e os canhões, o infortúnio é o mesmo. Chamam-lhe mercados, economia global, dívida externa e sei lá que mais. Pode lá ser!
Hoje, parece claro que só mudaram as tropas e os canhões, o infortúnio é o mesmo. Chamam-lhe mercados, economia global, dívida externa e sei lá que mais. Pode lá ser!
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