- Artur está connosco há catorze anos, para mim é como um pai, vejo-o como um pai. Quando ficou connosco estava sozinho no mundo, não tinha ninguém, andava sempre "borrachinho", fumava e bebia, fumava e bebia, quase não falava, ainda agora quase não fala... Começou a ficar magrinho, cansado, quase sem se poder arrastar, disse para a minha irmã: o Artur tem algum mal ruim. Foi ao médico, mandaram-no fazer exames, e o que se temia confirmou-se: cancro nos pulmões. A doença dele está a dar cabo de mim, não aguento, até o meu marido, quando lhe disse do Artur, chorou, estou casada há dezasseis anos e nunca o tinha visto chorar. Sabe, Artur é especial, deixa-se querer, como hei-de explicar isto..., é bom, todos lhe querem bem, já disse aos meus filhos pequenos: não arreliem o Artur que ele está muito doentinho. Trato-o o melhor que posso, vou fazer tudo o que puder por ele.
E fez, mas Artur não sobreviveu. Morreu dois meses depois. Será que alguma vez soube o quanto era amado por esta família de feirantes, que ganhava a vida de feira em feira, explorando o negócio de uma pista de carros eléctricos?
(Sobre um documentário passado na RTP2)
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