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sábado, 18 de junho de 2011

O gémeo subnutrido

Estava ali, embrulhado num pano roxo, nu, à espera de morrer desnutrido, quando o médico da região, que conhecia o caso, e alguém da Cruz Vermelha o vieram libertar da morte. O médico que o tinha atendido no posto local pergunta à mãe:
-Por que não foi à cidade internar o seu filho? Dei-lhe as guias para ser visto no hospital e ser integrado no programa alimentar.
- O meu marido disse que não valia a pena – cala-se, olhos no chão, e prossegue – não tenho dinheiro para o transporte. Como são gémeos, não tenho leite para os dois, um vai ter de morrer.
- Vai ter de morrer?
- É assim, o que sempre acontece, sem possibilidade de serem alimentados devidamente.
- Não, vamos salvá-lo.
Convencida a família, que resiste, porque o marido está fora e precisam da sua autorização, caminham para o hospital, pensando na possibilidade de salvação para aquela criança, tão pequena, quase recém nascida.
É internada e observada por um enfermeiro entendido em situações semelhantes. Ele faz uma expressão de alegria e todos respiram de alívio.
- Tem boas possibilidades de se reabilitar - deu-lhe imediatamente um medicamento - ficará  internada por semanas e entrará no plano de alimentação tal como o irmão gémeo.
Este bébé livrou-se da morte certa, por um acaso, num dia em que  uma equipa estrangeira, em reportagem pelas longínquas aldeias do Níger, se  depara com este cenário, demasiado comum, infelizmente: uma família assistindo à morte lenta de um dos seus filhos, porque a mãe não pode alimentar os dois e não têm dinheiro para adquirir leite de substituição.

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