Olhando
aquela adolescente, que podia ser sua neta, pensava: "que
mundo é este, que sociedade é esta, onde não há lugar para os
velhos e as crianças fogem de casa? Que vida familiar é
esta que exclui os velhos e não tem tempo para ajudar os filhos a
crescer e a viver a difícil adolescência. Que mundo é este em que
tantos estão sozinhos, apesar das multidões e do excesso de
comunicação"? O
velho não foi capaz de conter as suas emoções e de calar os seus sentimentos. Sem querer, começou a chorar.
-
Estás a chorar? - diz-lhe a jovem, olhando-o e tocando-lhe no rosto.
Também
ela se comoveu, pela primeira vez, fala com ternura na voz, num misto de surpresa e de compaixão, afinal ele parecia sofrer tanto ou mais do
que ela.
-
Olha, eu sou a Cláudia, queres vir comigo? Levo-te
para uma casa, já fora da cidade, onde vive uma amiga e onde às
vezes costumo ficar. Anda, vem, vem...
Arrastado
por ela, o velho deixa-se conduzir para fora da estação, sem
perguntas, mas observando e pensando sempre. Cláudia,
ora corria, ora parava, dizendo coisas sem sentido - a contradição presente em alguém que
sente raiva e culpa, por uma liberdade que quer e julga ter
conseguido, mas que não lhe serve para nada, antes, a maltrata e
prejudica. Cláudia não é capaz de cuidar de si, hoje, como em
muitas outras noites, terminará no beco de sempre, prostituindo-se, bebendo ou consumindo outra droga qualquer, apesar da idade.
O
velho pressente a situação mas não é capaz de dizer nada. Não é
capaz. Que coisa é essa que o impede de dizer seja o que for ao
mesmo tempo que questiona: «Para que quer Cláudia a liberdade se
não sabe ou não pode ser livre».
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