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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A face do regime chinês

Visitou o marido na cadeia, debaixo de condições que aparentemente cumpriu, mas, mesmo assim, foi colocada em prisão domiciliária. Não restam dúvidas de que quem enfrenta a ditadura chinesa sofre consequências, mais ainda, se isso implicar divulgar os actos do regime, a falta de democracia e a violação sistemática de direitos civis e políticos. Como sempre só alguns estão dispostos a pagar o preço.
Liu Xiaobo está preso, mas não é um criminoso. O mundo todo sabe como foi, o que disse e o que representa. Não pode ser um homem mau, mesmo que tenha desrespeitado leis injustas, outros quereriam tê-lo feito, mas faltou-lhes coragem. Ele teve-a. É o símbolo e a força dos que acreditam que nada é mais importante do que a dignidade humana. Podem existir conflitos diplomáticos, pode a China chamar o embaixador norueguês em Pequim, podem silenciar outros activistas, pode a máquina de propaganda do regime investir em todas as frentes, que a denúncia e seu alcance planetário parecem sem retorno, pelos menos para quem tem em mente a cidadania e os direitos humanos em todas as partes do mundo e não apenas na sua rua ou na sua pessoa. É por existirem pessoas como Xiaobo que a esperança nos direitos humanos se impõe contra todos os abusos. Abusos aos direitos fundamentais de todos os seres humanos, sim, pois, não se trata de outra coisa, por mais máscaras ou álibis que utilizem os governantes e autoridades daquele país

De volta a Portugal

Regressei de Moçambique, ontem. Foi um mês rico em experiências pessoais. Não posso dizer que a viagem tivesse constituído para mim um choque, trata-se de uma realidade que, em muitos pontos, eu já imaginava, uma triste realidade comum a muitos países em desenvolvimento, onde, a par do maior luxo e da tecnologia de ponta, temos a luta incessante pela sobrevivência, nas condições mais precárias que se possam imaginar, é quase como se estivessemos no princípio dos tempos: a mesma palhota, feita com as mesmas folhas de coqueiro, a mesma machamba, o mesmo destino...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ser para o outro

Olhamos à volta no mundo conturbado dos nossos dias e muitas categorias e valores que, antes, julgávamos, para sempre, adquiridos começam a desmoronar. Passámos tempo demasiado, tudo submetendo à política e, ultimamente, submetendo toda a política à economia. Caímos nisto: uma recessão presente, e talvez futura, que põe em causa muitos direitos humanos. Precisamos, para não ir ao fundo, de uma nova radicalidade para o viver com os outros, capaz de criar fraternidade,justiça, sustentabilidade...
Apetece convocar Lévinas e a ética da responsabilidade por outrem. O ser humano antes de ser uma liberdade e uma razão, é uma responsabilidade. É a responsabilidade por outrem o que nos constitui como indivíduos únicos, insubstituíveis e nos realiza humanamente. São as respostas aos apelos e às solicitações do outro, o que verdadeiramente nos incumbe. Há aqui uma radicalidade fácil de perceber, mas difícil de levar à prática, sabe-mo-lo. .

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Deve ser boa pessoa (2)

Não me enganei. Ao meio da tarde, recebi uma chamada sua a dizer-me que já tinha conseguido, iriam disponibilizar material escolar para o Internato das meninas de Inhambane. O que se abre no encontro com as pessoas é sempre uma surpresa, um mundo de possibilidades.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Deve ser boa pessoa

Acabo de falar com uma pessoa, responsável por uma loja de uma grande cadeia de distribuição, sobre a possibilidade de poderem doar algum material escolar para um orfanato em Inhambane- Moçambique.
Atendeu-me com uma disponibilidade invulgar, incomodada por ser tão em cima da hora, quando o normal, nestes casos, são pedidos com um mês de antecedência. "Mesmo assim vou ver o que posso fazer, espere aí, que vou lá dentro contactar pelo telefone uma colega que trata disso a nível central". Quando veio, com papel e caneta na mão disse-me: "não consegui falar com ela, ainda, está ocupada, mas deixe-me o seu contacto que eu vou ver o que posso fazer".
Muito obrigada - digo-lhe. "Não sei o que posso fazer, não prometo nada, mas gostava muito de ajudar". E, ao mesmo tempo que dizia isto, emocionou-se. E eu fiquei igual, quase sem articular palavra. Ganhei a manhã.

domingo, 24 de outubro de 2010

Lá longe, em África

Não sei que fascínio África exerce sobre mim, mas exerce, por mais que isto seja um lugar comum. O que mais me fascina são decididamente as pessoas, aliás, nos primeiros tempos, nos primeiros contactos, quase não vejo as paisagens, quase não vejo os contextos. E, se posso, deixo-me conduzir pelo que vem dos rostos, pelas paisagens interiores daqueles seres humanos. Estarei em Moçambique todo o mês de Novembro e talvez escreva textos sobre o que aí acontecer, aqui ou num novo blog.

sábado, 23 de outubro de 2010

Vou consigo

Não sei quantos anos tem, mas aparenta menos de setenta. Encontrei-a, e começamos a conversar, porque íamos ambas apanhar um transporte público.
- A senhora vai para o metro? - perguntou-me. E sem que eu tenha tido tempo de responder, acrescentou: - eu vou apanhar o autocarro, não gosto de andar de metro, só se vou com a minha filha.
- Eu prefiro o metro porque é mais rápido, digo-lhe.
- É verdade, mas sabe para mim é muito confuso, eu sei ler, mas não sei ler bem. Só fui um ano à escola, já de adulta.
Fico a pensar: quantas pessoas ainda haverá, neste país, que não sabem ler? Quantas pessoas haverá com dificuldade de orientação no metro e noutros locais e situações por não saberem ler? Damos tudo por adquirido, por facilitado, e há ainda tantas barreiras...
A conversa continuou, muito interessante, até, esqueci-me do metro e também eu fui de autocarro.
- Hoje vou de autocarro, só porque a encontrei a si. Vou consigo.