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domingo, 24 de janeiro de 2021

Lá, longe...num lugar e tempo (3)

 Julho de 1975, Nova Lisboa, Angola. 

Já nada é como antes, nem voltará a sê-lo. Ainda, ouve os tiros na rua, os gritos afogados, as lágrimas da mãe, do pai, do irmão e da cunhada, encostados uns aos outros, a um canto da sala, como se quisessem proteger-se e se vissem encurralados. Tinham de sair da cidade, como todos os outros, fossem simples funcionários da administração portuguesa, pequenos comerciantes, como os pais, ou exploradores de negros, em fazendas sem fim, espalhadas pelo país. Diferenças que, na altura, nem sequer suspeitava.

A sua cultura política era nula, apesar de ter quase dezoito anos. Vivia uma realidade que não questionava. A guerra era no mato; ver soldados na rua e quartéis da cidade, era a normalidade dos seus dias. O próprio pai tinha sido soldado e contava histórias de emboscadas, tiros, lutas…, mas sempre na terceira pessoa, como se, dessa forma, fosse menos duro para ele e para quem o ouvia.

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