Julho de 1975, Nova Lisboa, Angola.
Já nada é como antes, nem voltará a sê-lo. Ainda, ouve os tiros na rua,
os gritos afogados, as lágrimas da mãe, do pai, do irmão e da cunhada, encostados
uns aos outros, a um canto da sala, como se quisessem proteger-se e se vissem
encurralados. Tinham de sair da cidade, como todos os outros, fossem simples
funcionários da administração portuguesa, pequenos comerciantes, como os pais, ou
exploradores de negros, em fazendas sem fim, espalhadas pelo país. Diferenças
que, na altura, nem sequer suspeitava.
A sua cultura
política era nula, apesar de ter quase dezoito anos. Vivia uma realidade que
não questionava. A guerra era no mato; ver soldados na rua e quartéis da cidade, era a normalidade dos seus dias. O próprio pai tinha sido soldado e contava histórias de emboscadas, tiros, lutas…, mas sempre
na terceira pessoa, como se, dessa forma, fosse menos duro para ele e para quem
o ouvia.
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