Ontem e hoje já me emocionei com esta canção do Zeca Afonso, cantada por tanta gente. É um hino, uma celebração, uma consciência, um caminho...
A primeira vez que ouvi falar de Zeca Afonso, foi, em 1972 ou 1973, já não lembro bem, quando um jovem da Guarda, estudante universitário, em Coimbra, num gira-discos, pequeno, a pilhas, mostrou, às escondidas, a um grupo pequeno de pessoas, um disco dele. Foi algo muito marcante para mim, completamente ignorante sobre a situação política que se vivia, então.
Deixo a música.
https://www.youtube.com/watch?v=gaLWqy4e7ls
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domingo, 26 de abril de 2020
sábado, 25 de abril de 2020
Viva o 25 de Abril!
Sou a favor das
comemorações do 25 de abril, mas este ano, com convidados nas galerias (não é por acaso que muitos declinaram o convite), não faz
para mim qualquer sentido.
Mais ainda, quando se tem feito quase tudo à distância, por que razão não se fez também esta sessão solene do 25 de abril?
Quando o mal-estar é
geral, quando o estado de emergência nos obriga a tantas restrições, quando
tantas famílias enterram os seus mortos, na mais completa solidão, como se pode
achar que tudo está igual, no que toca a esta comemoração?
sexta-feira, 24 de abril de 2020
Até ao dia 25 de abril de 1974
Vivia-se, assim, na ditadura:
AUSÊNCIA DE LIBERDADES
E DIREITOS – não havia liberdades
individuais, nem direitos económicos e sociais.
A PIDE – a polícia política, que sustentava o regime, reprimia, prendia,
torturava…
AS PRISÕES e O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO do Tarrafal, em
Cabo verde.
A TORTURA – os espancamentos, a tortura psicológica, a estátua
(em pé, sem mexer), o sono (sem dormir), o isolamento, a frigideira (espaço
tipo caixa, de 3 por 5 metros, onde a sensação era de asfixia), os choques elétricos…
A CENSURA PRÉVIA - livros, jornais, revistas, espetáculos…tinham de
ter a aprovação do regime.
A UNIÃO NACIONAL – o partido único que se encarregava da “instrução
cívica”, da propaganda
do regime, da “falsificação” de eleições, da escolha política
dos funcionários públicos…
A GUERRA COLONIAL – fomos o último país a descolonizar. Continuávamos a
enviar tropas para Angola, Moçambique, Guiné…
terça-feira, 21 de abril de 2020
Gandhi, o filme (4)
Mesmo depois do estado indiano, os
tumultos entre as comunidades religiosas continuam, há lutas, separações,
deslocados, miséria humana...Gandhi vai a Calcutá, hospeda-se na casa de um
muçulmano, jejua até que terminem os tumultos, diz às autoridades indianas:
“Não posso assistir à destruição da Índia”.
Pede que nenhuma espada hindu se lance contra um muçulmano; está quase a morrer, quando lhe dizem que os tumultos terminaram, em todo o lado. Resiste. Toma água com limão, levanta-se, volta ao caminho. Foi assim ao longo da sua vida, prisões, jejuns, orações, atitudes...
Pede que nenhuma espada hindu se lance contra um muçulmano; está quase a morrer, quando lhe dizem que os tumultos terminaram, em todo o lado. Resiste. Toma água com limão, levanta-se, volta ao caminho. Foi assim ao longo da sua vida, prisões, jejuns, orações, atitudes...
Quem foi Gandhi para os indianos?
Quem foi Gandhi para o mundo? Não chega dizer que foi uma Alma Grande
(Mahatma), não chega dizer o que fez e pelo que lutou. Há um para lá de Gandhi
de que não podemos falar (de que não sabemos falar) e que é, ainda hoje, um
sentido.
(voltarei a Gandhi)
sábado, 18 de abril de 2020
Gandhi, o filme (3)
A cena em que queimam a roupa e tomam
a atitude de voltar ao velho tear é bem significativa do que pode acontecer à
economia britânica. É o primeiro a fazê-lo, a imagem parece irreal, quase do
princípio dos séculos, mas o que importa são as consequências. O mesmo com o
sal, deixar de comprar o sal, vendido pelos britânicos, e começar a fabricar o
próprio sal.
Mas, nem todos os que o seguem,
pensam o mesmo. Há os que entendem que é preciso agir pela força, que a não-violência,
a não-cooperação, não leva a lado nenhum. Gandhi entende que não se trata de
uma resistência passiva, e tem razão; desgastou de tal modo o poder britânico
que, em agosto de 1947, se organizou, em Londres, uma conferência sobre a independência
da Índia.
Gandhi está presente, defende a ideia de uma Índia unida, entre
muçulmanos, hindus, judeus, siques, cristãos …; uma Índia de todos, a mesma
ideia de comunidade, de ashram, onde todos fossem e se sentissem iguais. Mas, a dimensão da Índia é incomparável à comunidade que fundou na África do
Sul, não param as lutas entre os indianos e, quando se dá a transferência do
poder, a ideia de uma Índia unida, é já impossível. O Paquistão separa-se. A
Índia para os hindus e o Paquistão para os muçulmanos; afinal, o argumento
religioso, usado pelos britânicos, estava presente e era determinante.
quinta-feira, 16 de abril de 2020
Gandhi, o filme (2)
Em 1915, regressa à Índia, já não de fato
e gravata, mas com o fato tradicional indiano, como se procurasse uma
identidade profunda, que sabe só ali existir, quer ser como todos os outros. A
sua chegada é um sucesso; é aclamado como um herói nacional (conhecem a sua
luta e o que conseguiu), é recebido pelos poderes indianos que se opõem aos
britânicos.
Percorre a Índia de comboio, quer
conhecer, saber, sentir...; a pobreza é geral e impactante, está com a mulher e
com Charlie, o pastor evangélico que o segue e se identifica com a luta dos
indianos, ao ponto de se misturar com os hindus. Naquele comboio, a religião
não divide as pessoas, não as coloca numa situação de estranheza. Alguém lhe
pergunta: “É cristão?” “Sim, sou cristão”. Ainda assim, Gandhi faz-lhe ver que:
“o que deve ser feito, só deve ser feito por indianos”; o jovem compreende e
afasta-se.
Gandhi fala com o povo; escuta o
homem obrigado a cultivar “indigo”, uma planta para fabricar tinta para tingir
os tecidos fabricados em fábricas de cidades inglesas. Os indianos não podem
cultivar o que querem; cultivam apenas o que os britânicos querem, o que lhes
dá lucro e sustenta uma economia colonial, onde os beneficiados são sempre os
mesmos. Cultivam algodão e outras fibras vegetais que são transformadas em
tecidos e em roupas, em fábricas de cidades britânicas e vendidas depois aos
indianos.
terça-feira, 14 de abril de 2020
Gandhi, o filme (1)
A primeira cena é o assassinato de
Gandhi (30-1-1948). Um jovem hindu irrompe pela multidão, parecia ser um
admirador que lhe quer falar, mas não, puxa de uma pistola e atira. Depois, o
filme prossegue, com Gandhi, em 1893, advogado, que estudou em Londres, numa
carruagem de 1ª classe, na África do Sul, à época, também, parte do império
britânico. Como nenhum negro podia viajar senão em 3ª classe, mandam-no
mudar-se; não obedece, e é posto fora do comboio.
É-lhe dito que não poderá ser
advogado, pois, nenhum advogado negro (os indianos são considerados negros)
pode exercer a sua profissão; a segregação racial é muito violenta, até os
passeios públicos são destinados unicamente a brancos. Começa ali a luta pelos
direitos da sua comunidade, juntamente com outros indianos, hindus e
muçulmanos, não importa a religião que tenham.
O primeiro passo é queimar o salvo-conduto, um documento com que todos os negros tinham de andar. A
seguir, constroem uma comunidade – ashram – onde todos são e vivem como
iguais, onde todos fazem de tudo, onde não há senhores nem servos, onde não há
intocáveis.
A cena em que a sua mulher se queixa:
“tenho de limpar latrinas”? - é particularmente reveladora, Gandhi quase se
altera, e ela percebe tudo o que está em causa (será até à morte uma
companheira de todas as horas).
Começa a discursar, a passar ideias
de não-violência, de resistência pacífica, e, mais do que tudo, a dar o
exemplo, a agir. “Não terão a minha obediência” - é o grande lema da sua
luta. Os tumultos levam a uma lei que endurece a vida da comunidade, os
indianos perdem direitos. Gandhi é preso; algum tempo depois, a lei é revogada.
sexta-feira, 10 de abril de 2020
A Páscoa possível
Desejo a todos uma Boa Páscoa, ou, melhor, a Páscoa possível, nestes tempos atribulados de isolamento e ansiedade. Ninguém está despreocupado com esta pandemia que assolou o mundo.
quinta-feira, 9 de abril de 2020
Fala do Velho do Restelo ao Astronauta - Poema de José Saramago
Fala do Velho do
Restelo ao Astronauta
Aqui, na terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez,
E pusemos em ti nem eu sei que desejo
De mais alto que nós, e melhor, e mais puro.
No jornal soletramos, de olhos tensos,
Maravilhas de espaço e de vertigem:
Salgados oceanos que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
(E as bombas de napalme são brinquedos),
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome.
José Saramago, Poemas
Possíveis
terça-feira, 7 de abril de 2020
Urgentemente - Poema de Eugénio de Andrade
Urgentemente
É urgente o amor
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
Multiplicar os beijos, as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
E manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
Impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer.
(Eugénio de Andrade)
sábado, 4 de abril de 2020
Posso ter defeitos, viver ansioso... (Fernando Pessoa)
Posso ter
defeitos, viver ansioso
e ficar irritado algumas vezes mas
não esqueço de que minha vida é a
maior empresa do mundo, e posso
evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale
a pena viver apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos
de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir
um castelo
Fernando Pessoa
e ficar irritado algumas vezes mas
não esqueço de que minha vida é a
maior empresa do mundo, e posso
evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale
a pena viver apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos
de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir
um castelo
Fernando Pessoa
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