Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 4 de março de 2011

Escravatura (3)

Reduzido a força de trabalho, qual animal de carga, sem nenhum direito, comprado e vendido, como mercadoria, explorado até ao limite das suas forças, peça de uma engrenagem infame que reduz homens a escravos, sentia que não podia fraquejar. Não tinha escolha: só a revolta. Sairia disto, tinha a certeza, pois, ao contrário da  mãe não se sentia escravo por dentro, tinha forças para lutar. Não era escravo, fizeram-no escravo, sem direitos, sem documentos, sem reconhecimento... Pensava: “Um dia, mesmo que demore muito, haverá uma luz; segui-la-ei, com todos os companheiros da senzala, o portão não voltará a fechar-se e poderei, enfim, decidir da minha própria vida".

quarta-feira, 2 de março de 2011

A escravatura (2)

Ouvia, vezes sem conta: “não podes fazer, não podes sentir, não podes imaginar…”, mas que vida era esta que a própria mãe lhe impunha como destino, como se nada houvesse a fazer. Crescer com a ideia de que tudo é impossibilidade, perturba até os sonhos; sempre nos seus sonhos aparecia uma portão, um capitão do mato, um estrada sem saída, um labirinto que acabava num palmeiral, onde, por entre os ramos, o sol sempre se escondia.  Por que seria sempre pôr do sol? Por que se fechava o portão? Por que terminava a estrada? Pesadelos da noite que a dura realidade do amanhecer tornava reais, sempre a mesma senzala, sem nada, que não fosse a voz do feitor, um naco de pão, uma enxada, um trilho para caminhar até à roça e o mesmo trabalho forçado. Trabalhar, trabalhar, horas e horas, quantas mais melhor, dependeria da época do ano, mas sempre muitas, claro.

terça-feira, 1 de março de 2011

A escravatura (1)

Tinha sentimentos e sonhos de gente, mas não podia ser gente. Não o consideravam como tal. Tinha vontade, razão, ideias, desejos..., mas não tinha a liberdade de fazer fosse o que fosse. Vivia aprisionado e a  prisão não estava apenas em não poder sair pelo portão da fazenda, em não poder saltar os muros da roça, em não poder  atravessar o rio para o lado de lá. A liberdade não estava em lado nenhum. Sabia-o e por isso ficava ali, incapaz de decidir o que fosse sobre a sua própria vida.
Questionava se poderia viver naquela tempestade interior toda a sua vida? E a resposta era invariavelmente a mesma: impossível, resistir. Tinha de encontrar uma saída, antes que lhe aprisionassem também a alma. A liberdade era uma voz interior que não podia calar, embora, quando a raiva apertava mais, fizesse de tudo para silenciar esse desejo de ser livre. Fazia-o para sobreviver.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A liberdade

O que se passa no mundo árabe  por estes dias é bem elucidativo do valor da liberdade.  Faz parte intrínseca do ser humano, ser livre. Temos naturalmente a  capacidade de pensar, de  ter iniciativas, de fazer projectos, escolhas e decisões, por nós proprios,  sem a necessidade de "iluminados" a apontarem-nos o caminho. Se assim não fosse, porque precisariam os ditadores de negar as liberdades individuais, reprimindo, controlando, proibindo...?  Não precisavam. Mas chega um dia, sobretudo quando as sociedades evoluem a nível de conhecimentos, que a revolta se torna inevitável e a exigência de liberdade é o primeiro dos direitos a ser reivindicado. Não precisamos de donos.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Kadafi, maldade ou loucura?

Aquela 1ª declaração de Kadafi, dentro de um automóvel, com um chapéu de chuva aberto, à chuva, é surreal. Mas a segunda, frente ao palácio bombardeado nos anos oitenta pelos americanos é ainda pior. Parece louco, está louco. Pergunto:  aquele povo pode estar sujeito a isto?  A comunidade internacional pode estar sujueta a isto? Não há nenhuma dúvida de que ele vai massacrar até ao fim, morra quem morrer, ninguém está a salvo, espero que o resgate de estrangeiros não tenha problemas graves, já se viu que  o grande líder está disposto a tudo. Grande líder de quê? Dos infernos, talvez!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Líbia, será o fim daquele regime?

A Europa reune, está atenta, mostra preocupações, divide-se entre a estratégia e os interesses com Kadafi  e a defesa intransigente da democracia e dos direitos humanos. O mesmo na América, Clinton mais diplomata, Obama mais direitos,  mais liberdades... Todos tememos o pior, haverá um alto preço a pagar, mas era tão importante que a revolução ganhasse, que os ditadores, todos os ditadores, desde os que se julgam mais ou menos deuses, aos  que se julgam indispensáveis, duma vez por todas, deixassem o povo determinar o seu futuro!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Meninos soldado. no Chade

São crianças ainda, algumas  para  proteger as famílias dos ataques, para fugirem da miséria mais absoluta, entram nas fileiras tanto dos rebeldes como das forças governamentais. Outras são raptadas, levadas à força. De arma na mão, drogas no corpo, treinos sem fim, perdem a infância e muitas até a alma. Meninos meio perdidos, meio abandonados, para quem a  convenção dos direitos da criança e o protocolo adicional sobre a proibição do envolvimento de crianças em conflitos armados parecem de nada valer. É tudo letra morta para quem tem a obrigação  de zelar pelo seu cumprimento, e faz exactamente o contrário.