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sábado, 8 de janeiro de 2011

"ELE me chamou", a fé

“ELE me chamou”, diz-me um jovem que está a terminar o 12º ano, com um livro na mão sobre a vida e obra dos Franciscanos. ELE é o seu, o meu, o Deus de todas as pessoas que acreditam. Nenhuma demonstração ou experiência atesta a Sua existência, mas nada mais real para um crente. Acerca da fé, nada há a discutir. Nada há a dizer. Todos somos, antes de tudo o mais, aquilo em que acreditamos. São os valores, as crenças e os costumes que nos habitam que nos fazem pessoas e nos determinam a vida.

Tinha combinado encontrar-se comigo para falar de filosofia, embora já tivesse feito exame e ter a certeza de que ia ter positiva. Colocou-me uma questão de lógica, sobre silogismos hipotético-disjuntivos (a que eu não soube responder, há mais de doze anos que não toco nessa matéria), mas percebi logo que a conversa sobre filosofia era um pretexto, queria conversar sobre outras coisas. Falou de si, da sua vocação, de como tem clara a ideia de ser padre franciscano, falou-me de todo o percurso de formação, passando por várias cidades e até países, do extenso caminho e da profundidade do percurso que pretende iniciar. Agora, irá para o seminário de Chimoio, depois para o noviciado em Portugal, depois Roma,  Zâmbia…
Perguntou-me o que achava. O que ia eu achar, obviamente que não tenho nenhuma resposta, nenhuma opinião.  "A religião é uma coisa muito séria", comentei apenas para não ficar calada. Ele continuou a falar da certeza da sua escolha e eu  pus-me a pensar na determinação deste jovem, na sua convicção. Espero que o seu caminho não tenha muitas pedras. 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A loja solidária

Mais ou menos por todo o lado, aparecem lojas com uma função fundamentalmente solidária, a de ajudar os que precisam neste tempo de crise e de desastre social em que, todos os dias, damos mais um passo para o abismo.  Os que podem contar com os produtos, a um custo simbólico ou gratuitos,  têm oportunidade de aliviar, por algum tempo, o desespero em que vivem, mas só por algum tempo. As respostas sociais não podem ser de remedeio, têm de ter sustentabilidade. Estamos a caminhar, há anos, muitos anos, numa direcção que vai deixar marcas profundas, basta pensar no desemprego, nomeadamente o dos jovens, que ascende a 22 %, tenho entendido, na sua maioria jovens muito qualificados... Haverá pior sinal?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Pena de morte ou quase, mais um engano

Acaba de se saber que um cidadão americano esteve trinta anos preso, numa cadeia doTexas, acusado por roubo e violação, crime que não cometeu. Sempre se disse inocente, mas o seu caso não foi reavaliado, até que uma organização a trabalhar nesta área conseguiu a reabertura do processo e a sua absolvição, depois de testes de ADN. O grave desta história é a condenação de inocentes,  deste homem e de outros. Já parámos para pensar o tremendo que é cumprir uma pena destas (sessenta e cinco anos, parece-me), quão devastador é para ele e sua família (e devia também sê-lo para toda a sociedade) deixar que coisas destas aconteçam? Há outros argumentos, mas  a possibilidade de condenar inocentes, devia chegar para que, de uma vez por todas, se acabasse com a pena de morte nos Estados Unidos e em todos os lugares do mundo onde ainda existe.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A cólera, no Haiti

O Haiti saiu da agenda mediática, mas  a premência da ajuda humanitária e dos planos de reconstrução continuam, sem aparente fim à vista.  Para complicar e aumentar todas as dificuldades, desde meados de Outubro que a cólera grassou em grande escala, mais de mil  mortos, muitos milhares de doentes, hospitais a abarrotar, condições deficientes e  limitadas para enfrentar como deveria ser o problema.  Uma desgraça nunca vem só, no caso do Haiti, não pode ser mais verdade.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

“Esta tarde vou trançar”

A cabeça das meninas parece uma obra de arte, tais os feitios e os modos de trançarem os cabelos. Passam horas a fazer aquelas trancinhas pequeninas, tantas que parecem não acabar nunca. Umas ficam coladinhas à cabeça formando linhas, umas vezes paralelas, outras vezes curvas, ou uma espécie de figuras. Outras vezes, fazem tranças soltas, traçando com a ajuda de um fio ou de um cabelo sintéctico próprio. São muitas as maneiras de trançar, quase como a sua imaginação.
Trançar exige saber,  paciência, disponibilidade e amizade. São as amigas que trançam às amigas, quem não tem amigas disponíveis fica dias com a toalha enrolada à cabeça à espera que alguém queira  trançar os seus cabelos.
Disse a uma menina: - Tantas trancinhas! São mais de cem!
- Não, nem chegam a cinquenta.
- Sou uma exagerada! Levaste toda a tarde?
- Quase toda. Gosta? Não gosto do meu cabelo sem ser trançado.
- Gosto. Estás muito bonita.

domingo, 2 de janeiro de 2011

"Parece a água do Bilene"

“Parece a água do Bilene” – disse por várias vezes, ao longo daquele dia. Antes, na praia do Tofo e depois, no final da tarde, molhando os pés junto a um dos locais de banho na baía de Inhambanhe. Por que veria  ela naquele mar a água do Bilene?
- Bilene é a minha  terra - disse-me.
Ah! Então, estava tudo explicado. Haveria lá águas mais azuis, mais calmas, mais limpas e melhores que as águas do Bilene? Não havia. Não podia haver!
Nunca, ou quase nunca, estamos completamente no sítio onde estamos, sempre nos povoam pensamentos, lembranças, recordações e afectos…, e são esses que nos adoçam ou amargam o dia. Aquela jovem teve um dia doce e feliz, "viajando" pelo Bilene. Molhou os pés, olhou demoradamente as crianças e os jovens que tomavam banho, nadavam ou davam mergulhos. Era visível, nos seus gestos e expressões, a vontade imensa de entrar na água. Não entrou, porque não era altura nem hora, mas "esteve" na sua terra, na sua praia, no mar do Bilene. E isso foi muito.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ano Novo

"Ano novo, vida nova", é uma frase comum, mas não gasta. A importância do novo, do não dito, do não vivido, do não percepcionado, é decisivo na vida de todos. A novidade convoca a nossa capacidade de nos deixarmos surpreender, maravilhar; a capacidade de escutar, abrir a alma, deixando cair máscaras e teias que nos enredam e nos perturbam demasiado.