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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

10 de Dezembro, Dia Mundial dos Direitos Humanos

Num ano tão difícil, para tantas pessoas, para tantas famílias, devido à crise mundial, ao desemprego, à insegurança, às catástrofes naturais (não podemos deixar de pensar no Haiti, Chile...), à guerra (sempre a guerra), importa lembrar a força dos direitos humanos, a sua universalidade, a sua interdepêndência, mas também a sua contínua dificuldade. Há muita violação de direitos, por todo o lado, mesmo nos países que assinaram os tratados e os procuram cumprir, mas há, ainda, em muitos países, negação de direitos. Hoje, na entrega do Prémio Nobel da Paz, em Oslo, não estará Liu Xiaobo. Permanecerá preso numa cadeia chinesa. O mundo tomará nota, e espera-se que a China também.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O posto da guarda (será?)

Ao longo da estrada, Inhambane-Maputo (julgo que por todo o país), encontram-se, repetidamente, de tantos em tantos quilómetros, as ruínas de duas casas abandonadas. São casas térreas, seguidas, rectangulares, amplas, uma maior que a outra, ambas com uma varanda ao correr do muro e a mais pequena com uma espécie de alpendre à porta de entrada. Não perguntei nada, mas julgo serem as casas do guarda do posto administrativo, onde estava situada a autoridade portuguesa, servindo a maior de posto e a outra de habitação. Percebe-se que não sejam lugares de boa memória para os moçambicanos; percebe-se o desprezo, o desleixo e tudo o mais, mas como não é possível reescrever a história, talvez reaproveitá-las fosse a melhor coisa a fazer. Assim, sem telhados, sem janelas, com erva crescendo dentro, aqui ali a desmoronar, atentam contra a paisagem e uma natureza que deslumbra.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Quando a sida mata tanto...

A prevalência da sida em Moçambique é imensa, em todo o país, com uma média nacional, no grupo estudado (dos 15 aos 49 anos, parece-me) de mais de onze porcento, havendo províncias, como Gaza, a obter mais de vinte por cento. Quando a sida mata tanto, é toda a comunidade que se desestrutura. Nunca é só o caso da doença ou da morte por sida, e tudo o mais.
Uma jovem de dezoito anos com quem conversei sobre o tema e a quem perguntei se a sida estava minimamente controlada, disse-me: “Que nada, a sida não está controlada, a única melhoria é o acesso aos retro-virais, com a construção da fábrica, as pessoas que antes não podiam agora podem tratar-se. Mas, continua a haver novos infectados. “Contudo, parece não existir falta de informação, o assunto é trabalhado na escola, logo nos primeiros anos do básico, está na comunicação social, na sociedade civil, são inúmeras as ONG'S a trabalhar na área...". “Sim, mas é a mentalidade dos homens. Os homens querem ter seis, sete mulheres, andam com meninas de treze anos, dão-lhes algum dinheiro ou alguma coisa e elas, que não têm nada e precisam, vão". "Há prostituição, por aqui"? "Há muita. Aqui há muita".
Não sei se a explicação que a jovem me deu é ou não a principal causa da propagação da sida, mas é concerteza uma causa muito difícil de combater, é que não há um comprimido para o problema que se possa juntar ao conjunto dos retrovirais. A questão é de outra ordem, como bem sabemos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Há árvores eternas

Muitas vezes, ao atravessarmos certas regiões de África, há um sentimento de contingência, de precaridade, que nos ronda e invade por dentro. Tudo é mudança, como se as areias, os ventos, as brumas, o sol e a chuva se combinassem para eternizar o presente, a necessidade de um contínuo recomeço.
Só as árvores parecem eternas, lá, onde estão, cumprindo um destino. São eternos os coqueiros que guardam, de muito alto, a baía de Inhambane, à saída do barco, em Maxixe. São eternos os cajueiros, de enormes copas, quase tocando o chão, que vislumbramos pelos vidros do autocarro, pela estrada de Gaza. São eternas as altas e frondosas mangueiras, carregadas de mangas que, nestas semanas de Dezembro, passam de verdes a amarelas e vão caindo de maduras, nos recreios das escolas,nas machambas e nas ruas. São eternas as acácias vermelhas que sobem por cima dos telhados, no pátio dos salesianos, em Maputo.

Pemba, no TPI

Começou a ser julgado, no Tribunal Penal Internacional, Pemba, antigo homem forte da oposição no Congo. Nega, como seria de esperar, todas as acusações, assegura que não violou, não pilhou, não matou…Enfim, é perseguição e má sorte, o que lhe está a acontecer.
Estes assassinos nunca param para ouvir a consciência, nunca encaram a verdade de frente, nunca admitem erros…, como vão admitir chacinas, violências múltiplas, crimes contra a humanidade? Nunca. Se algo fizeram foi em nome da libertação do povo, da revolução, até, da democracia, veja-se. São todos demasiado cobardes, demasiado indignos. Só são “fortes” com séquitos e metralhadoras. Tristes mandantes.
É um passo muito importante na história dos direitos humanos que estes senhores sejam julgados, desde logo, para que outros ditadores fiquem a saber que a comunidade internacional não está mais de olhos fechados, tem instrumentos e vai usá-los.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A face do regime chinês

Visitou o marido na cadeia, debaixo de condições que aparentemente cumpriu, mas, mesmo assim, foi colocada em prisão domiciliária. Não restam dúvidas de que quem enfrenta a ditadura chinesa sofre consequências, mais ainda, se isso implicar divulgar os actos do regime, a falta de democracia e a violação sistemática de direitos civis e políticos. Como sempre só alguns estão dispostos a pagar o preço.
Liu Xiaobo está preso, mas não é um criminoso. O mundo todo sabe como foi, o que disse e o que representa. Não pode ser um homem mau, mesmo que tenha desrespeitado leis injustas, outros quereriam tê-lo feito, mas faltou-lhes coragem. Ele teve-a. É o símbolo e a força dos que acreditam que nada é mais importante do que a dignidade humana. Podem existir conflitos diplomáticos, pode a China chamar o embaixador norueguês em Pequim, podem silenciar outros activistas, pode a máquina de propaganda do regime investir em todas as frentes, que a denúncia e seu alcance planetário parecem sem retorno, pelos menos para quem tem em mente a cidadania e os direitos humanos em todas as partes do mundo e não apenas na sua rua ou na sua pessoa. É por existirem pessoas como Xiaobo que a esperança nos direitos humanos se impõe contra todos os abusos. Abusos aos direitos fundamentais de todos os seres humanos, sim, pois, não se trata de outra coisa, por mais máscaras ou álibis que utilizem os governantes e autoridades daquele país

De volta a Portugal

Regressei de Moçambique, ontem. Foi um mês rico em experiências pessoais. Não posso dizer que a viagem tivesse constituído para mim um choque, trata-se de uma realidade que, em muitos pontos, eu já imaginava, uma triste realidade comum a muitos países em desenvolvimento, onde, a par do maior luxo e da tecnologia de ponta, temos a luta incessante pela sobrevivência, nas condições mais precárias que se possam imaginar, é quase como se estivessemos no princípio dos tempos: a mesma palhota, feita com as mesmas folhas de coqueiro, a mesma machamba, o mesmo destino...