A criança síria, resgatada dos escombros de uma casa em
Aleppo, após mais um bombardeamento (já nem sei de quem são as bombas, são
tantos a disparar), sentada, quase irreconhecível, paralisada, no banco da ambulância
que a levou ao hospital, parece estar a recuperar, enquanto o irmão não resistiu
e já morreu.
A tua mudez é ensurdecedora, apela à responsabilidade do
mundo. Oiço os teus gritos silenciosos e sinto-me responsável pelo que te está a
acontecer, mesmo que pouco possa fazer, mesmo que tenha escrito muitas vezes
contra os ditadores, os fundamentalismos, a guerra, a violência…; sinto que o
que te aconteceu me diz respeito.
O pior ainda é que quase já ninguém se sente responsável; o
pior é que as imagens de crianças denunciando e clamando pela consciência do
mundo começam a ser tão banais que temo se tornem irrelevantes. Jantamos,
conversamos, desligamos a televisão… e seguimos as nossas vidas como se os
meninos de Aleppo e todos os outros meninos, vítimas de tantos abusos, fossem apenas
imaginação.
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