A cabeça das meninas parece uma obra de arte, tais os feitios e os modos de trançarem os cabelos. Passam horas a fazer aquelas trancinhas pequeninas, tantas que parecem não acabar nunca. Umas ficam coladinhas à cabeça formando linhas, umas vezes paralelas, outras vezes curvas, ou uma espécie de figuras. Outras vezes, fazem tranças soltas, traçando com a ajuda de um fio ou de um cabelo sintéctico próprio. São muitas as maneiras de trançar, quase como a sua imaginação.
Trançar exige saber, paciência, disponibilidade e amizade. São as amigas que trançam às amigas, quem não tem amigas disponíveis fica dias com a toalha enrolada à cabeça à espera que alguém queira trançar os seus cabelos.
Disse a uma menina: - Tantas trancinhas! São mais de cem!
- Não, nem chegam a cinquenta.
- Sou uma exagerada! Levaste toda a tarde?
- Quase toda. Gosta? Não gosto do meu cabelo sem ser trançado.
- Gosto. Estás muito bonita.
Pesquisar neste blogue
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
domingo, 2 de janeiro de 2011
"Parece a água do Bilene"
“Parece a água do Bilene” – disse por várias vezes, ao longo daquele dia. Antes, na praia do Tofo e depois, no final da tarde, molhando os pés junto a um dos locais de banho na baía de Inhambanhe. Por que veria ela naquele mar a água do Bilene?
- Bilene é a minha terra - disse-me.
Ah! Então, estava tudo explicado. Haveria lá águas mais azuis, mais calmas, mais limpas e melhores que as águas do Bilene? Não havia. Não podia haver!
Nunca, ou quase nunca, estamos completamente no sítio onde estamos, sempre nos povoam pensamentos, lembranças, recordações e afectos…, e são esses que nos adoçam ou amargam o dia. Aquela jovem teve um dia doce e feliz, "viajando" pelo Bilene. Molhou os pés, olhou demoradamente as crianças e os jovens que tomavam banho, nadavam ou davam mergulhos. Era visível, nos seus gestos e expressões, a vontade imensa de entrar na água. Não entrou, porque não era altura nem hora, mas "esteve" na sua terra, na sua praia, no mar do Bilene. E isso foi muito.
- Bilene é a minha terra - disse-me.
Ah! Então, estava tudo explicado. Haveria lá águas mais azuis, mais calmas, mais limpas e melhores que as águas do Bilene? Não havia. Não podia haver!
Nunca, ou quase nunca, estamos completamente no sítio onde estamos, sempre nos povoam pensamentos, lembranças, recordações e afectos…, e são esses que nos adoçam ou amargam o dia. Aquela jovem teve um dia doce e feliz, "viajando" pelo Bilene. Molhou os pés, olhou demoradamente as crianças e os jovens que tomavam banho, nadavam ou davam mergulhos. Era visível, nos seus gestos e expressões, a vontade imensa de entrar na água. Não entrou, porque não era altura nem hora, mas "esteve" na sua terra, na sua praia, no mar do Bilene. E isso foi muito.
Etiquetas:
Moçambique; pessoas; sentimentos
sábado, 1 de janeiro de 2011
Ano Novo
"Ano novo, vida nova", é uma frase comum, mas não gasta. A importância do novo, do não dito, do não vivido, do não percepcionado, é decisivo na vida de todos. A novidade convoca a nossa capacidade de nos deixarmos surpreender, maravilhar; a capacidade de escutar, abrir a alma, deixando cair máscaras e teias que nos enredam e nos perturbam demasiado.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Lévinas
Quero aqui falar do autor que mais li durante este ano, como vem sendo habitual já há algum tempo: Emmanuel Lévinas. Descobrir Lévinas tornou-me outra pessoa, há coisas que só percebi a partir de Lévinas. Há um sentido profundo a que Lévinas nos conduz que para mim tem sido essencial. Tenho muitos livros dele, mas volto sempre a “Totalidade e Infinito”, a ideia de infinito e o modo como o conceptualiza é decisivo para perceber a sua filosofia.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Direitos humanos, a urgência de sempre
Acaba o ano de 2010, tempo de balanço e novos propósitos. Desejo que o próximo ano traga avanços significativos no campo dos direitos humanos, maior consciência sobre as questões globais, mas também sobre as questões do país, da rua, da casa onde trabalhamos ou vivemos: o desemprego, a fome, o abandono de crianças e idosos, a violência doméstica, a violência nas escolas, etc. Os direitos humanos são um desígnio de todos nós, de todas as sociedades e povos do mundo, independentemente de crenças, culturas e tudo o mais.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Pessoas que contam
Conheci uma jovem, Irmã Franciscana, que estava em Maputo a acompanhar uma doente. É colombiana e vive há dois anos em Tete, bem no interior de Moçambique, quase na fronteira com o Malawi, a dar apoio escolar a crianças da missão e a trabalhar num projecto de aleitamento de bébes com graves carências alimentares, no geral orfãos. Quando me disse dois anos, comentei: “Há muito tempo”. “Não, dois anos é pouco tempo”, responde-me.
Percebi logo que as nossas noções de tempo, de vida e de ritmo não são as mesmas. Nem podem ser. São vidas e experiências muito diferentes, porventura, com entendimentos, prioridades, desejos e objectivos também muito distintos, ainda assim, nos contactos, passeios e conversas que tivemos foi possível encontrar muitos pontos em comum. Neste mundo de interesses, gritos e balbúrdia, cada um tem de decidir, a cada momento, se abre a porta e dá abrigo ou, ao invés, se a fecha e se instala. Ela abriu-me a porta. E eu entrei. Espero um dia reencontrá-la, em Lisboa ou noutro qualquer lugar. Vai ser possível, tenho a certeza. Sei que está definitivamente na minha vida.
Percebi logo que as nossas noções de tempo, de vida e de ritmo não são as mesmas. Nem podem ser. São vidas e experiências muito diferentes, porventura, com entendimentos, prioridades, desejos e objectivos também muito distintos, ainda assim, nos contactos, passeios e conversas que tivemos foi possível encontrar muitos pontos em comum. Neste mundo de interesses, gritos e balbúrdia, cada um tem de decidir, a cada momento, se abre a porta e dá abrigo ou, ao invés, se a fecha e se instala. Ela abriu-me a porta. E eu entrei. Espero um dia reencontrá-la, em Lisboa ou noutro qualquer lugar. Vai ser possível, tenho a certeza. Sei que está definitivamente na minha vida.
Direitos e deveres
Temos de falar necessariamente de direitos e deveres, mas em meu entender a tónica dever ser colocada na educação para os direitos, porque os deveres não implicam obrigatoriamente a existência de direitos, enquanto que os direitos implicam obrigatoriamente deveres. Assim, educar para os direitos é também educar para os deveres.
O dever é da ordem da obrigação individual, mesmo que ninguém cumpra, se tenho um dever, devo cumpri-lo, aliás, os outros esperam que assim aconteça. De algum modo, a educação para os deveres dilui a esfera da autonomia pessoal, sob o peso das expectativas dos outros, sejam pessoas, grupos ou instituições.
O direito é da ordem da obrigação interpessoal e social, tem de ser necessariamente garantido por parte dos outros, sejam pessoas, grupos ou instituições, os que têm a obrigação de o tornar efectivo.
O dever é da ordem da obrigação individual, mesmo que ninguém cumpra, se tenho um dever, devo cumpri-lo, aliás, os outros esperam que assim aconteça. De algum modo, a educação para os deveres dilui a esfera da autonomia pessoal, sob o peso das expectativas dos outros, sejam pessoas, grupos ou instituições.
O direito é da ordem da obrigação interpessoal e social, tem de ser necessariamente garantido por parte dos outros, sejam pessoas, grupos ou instituições, os que têm a obrigação de o tornar efectivo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)