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sábado, 4 de abril de 2020

Posso ter defeitos, viver ansioso... (Fernando Pessoa)

Posso ter defeitos, viver ansioso
e ficar irritado algumas vezes mas
não esqueço de que minha vida é a
maior empresa do mundo, e posso
evitar que ela vá à falência.


Ser feliz é reconhecer que vale
a pena viver apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos
de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.


É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir
um castelo


Fernando Pessoa

terça-feira, 31 de março de 2020

Nevoeiro - de Fernando Pessoa


N E V O E I R O

Nem rei nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro.


É a Hora!

Fernando Pessoa (1926), in Mensagem 


sábado, 28 de março de 2020

E Por Vezes - Poema de David Mourão Ferreira


E Por Vezes

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
Lá no Fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
Num segundo se evolam tantos anos

David Mourão Ferreira

sexta-feira, 27 de março de 2020

A Indiferença - Poema de Bertolt Brecht


A Indiferença

 Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
de alguns padres, mas como não sou religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde
                                                           Bertolt Brecht

 



quarta-feira, 25 de março de 2020

De mãos dadas - Poema de Carlos Drummond de Andrade


(Em tempos difíceis, publico poemas) 

De mãos dadas

«Não serei um poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho os meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
  
Não serei cantor de uma mulher de uma história,
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente».

(Carlos Drummond de Andrade)




terça-feira, 24 de março de 2020

A pandemia assusta

Dada a situação atual, parece que todos somos potenciais portadores do vírus. Já não nos olhamos da mesma maneira. A vida alterou-se por completo, até, nas aldeias pequenas, com meia dúzia de pessoas. Mas, temos de comprar alimentos, medicamentos e fazer outras coisas inadiáveis. Temos de quebrar o isolamento e ficar expostos, mais ou menos, ao que nos pode acontecer, apesar, de todos os cuidados.
Percebemos, agora, como ninguém é autossuficiente, como ninguém se pode isolar de todos e de tudo. Percebemos, também, quão precária é a nossa saúde a nossa vida.

quinta-feira, 19 de março de 2020

A pandemia do novo coronavírus


Vemos bem, com a atual crise pandémica, várias faces da globalização: há gente de todos os sítios em todo o lado; há bens essenciais de que dependemos, por exemplo, para fabricar medicamentos, do outro lado do mundo, na China. Tudo está interligado.
A Europa pareceu adormecida, julgando que o vírus não chegava cá ou não teria o impacto que está a ter. Os sistemas de saúde, até os mais avançados, revelam-se impotentes. Ronda a exaustão e a morte. É triste.
O pior, é que estamos longe de saber o que vai acontecer; temo que seja longa esta crise e que à epidemia do vírus se juntem o medo e a ansiedade e tragam, a muitas pessoas, complicações a outros níveis de saúde.
Por mim, cumprirei o que as autoridades de saúde e de outras instituições do Estado ordenarem. Parece não restar outra coisa.