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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A face do regime chinês

Visitou o marido na cadeia, debaixo de condições que aparentemente cumpriu, mas, mesmo assim, foi colocada em prisão domiciliária. Não restam dúvidas de que quem enfrenta a ditadura chinesa sofre consequências, mais ainda, se isso implicar divulgar os actos do regime, a falta de democracia e a violação sistemática de direitos civis e políticos. Como sempre só alguns estão dispostos a pagar o preço.
Liu Xiaobo está preso, mas não é um criminoso. O mundo todo sabe como foi, o que disse e o que representa. Não pode ser um homem mau, mesmo que tenha desrespeitado leis injustas, outros quereriam tê-lo feito, mas faltou-lhes coragem. Ele teve-a. É o símbolo e a força dos que acreditam que nada é mais importante do que a dignidade humana. Podem existir conflitos diplomáticos, pode a China chamar o embaixador norueguês em Pequim, podem silenciar outros activistas, pode a máquina de propaganda do regime investir em todas as frentes, que a denúncia e seu alcance planetário parecem sem retorno, pelos menos para quem tem em mente a cidadania e os direitos humanos em todas as partes do mundo e não apenas na sua rua ou na sua pessoa. É por existirem pessoas como Xiaobo que a esperança nos direitos humanos se impõe contra todos os abusos. Abusos aos direitos fundamentais de todos os seres humanos, sim, pois, não se trata de outra coisa, por mais máscaras ou álibis que utilizem os governantes e autoridades daquele país

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Prémio Nobel da Paz

A atribuição do prémio Nobel a um cidadão chinês, encarcerado injustamente, pese embora o véu de legalidade que o governo exibe, fez já o seu caminho. Sabemos todos quem são uns e outros, qual é o preço da liberdade e o que se paga por não alienar a consciência.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Libertação de presos políticos em Cuba

Com mediação da igreja (o arcebispo de Havana, creio) e da diplomacia espanhola, o governo dos irmãos Castro vai libertar cerca de cinquenta presos políticos. É algo de novo, de muito novo mesmo, é algo para aplaudir e acompanhar. Não se trata de uma libertação sem condições, estes cidadãos cubanos não poderão permanecer em Cuba, serão recebidos em Espanha, mas é um começo. As mudanças fazem-se de começos, de abrir caminhos, de encontros ... Espero que todos os presos de consciência sejam libertados e que finalmente as liberdades individuais e políticas sejam uma realidade em Cuba. É tempo demais, sempre foi tempo demais, soubemos disso há muito. Aonde nos levaram as ideologias? Aonde nos conduziram os radicalismos?

sábado, 20 de março de 2010

As mulheres de branco

Nas ruas de Havana, desfilam mulheres de branco, com uma flor na mão, sem palavras de ordem, mas que não fazem falta, já que o seu silêncio é de gritos e está a ouvir-se no mundo todo. Desfilam pelos maridos, pelos filhos, pelos irmãos… - cerca de 50 presos políticos, encerrados, muitos desde 2003, nas masmorras das prisões cubanas. Desfilam por amor, por sentimento, por dignidade. Por dignidade, senhores! Vamos ver até quando e com que consequências!
Fazem lembrar as mães argentinas, as mães da Praça de Maio, que, durante anos, todas as semanas, desfilaram pelos filhos desaparecidos, às mãos de uma ditadura militar. Fazem lembrar a força invisível que os sentimentos têm. Fazem lembrar o valores da liberdade e da justiça. Fazem lembrar novos amanheceres. É pena que tenha de ser à custa de tanta luta e de tanto sofrimento. Malditos ditadores, malditas ditaduras!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Minaretes nas mesquitas

Na Suíça, uma maioria, em referendo, decidiu proibir, a partir de agora, a construção de minaretes nas mesquitas, acto que me parece semelhante a proibir os sinos nas igrejas católicas. O que aqui importa é o passo atrás na liberdade religiosa que as democracias têm vindo a assegurar; é o passo atrás no que respeita ao direito de cada pessoa poder escolher livremente a sua religião, de mudar se assim o entender e de a praticar sozinho ou em grupo (art. 18º da DUDH). O conflito existe, é visível, já teve outras manifestações, recordemos a proibição do uso do véu islâmico, nas escolas públicas francesas, há uns anos atrás. Não se esbaterá por nenhuma lei a favor ou contra do que pensam uns e outros; a questão é de disponibilidade, abertura, diálogo, valorização recíproca ..., e isto é uma aprendizagem lenta, mas que as sociedades de hoje, cada vez mais heterogéneas, também a nível religioso, não podem descurar.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aung San Suu Kyi

Quem não conhece a história, ao olhar a casa, o lago, as árvores, dirá que o cenário é de sonho. Não é, como sabemos bem. Naquela casa, em prisão domiciliária, a líder da oposição birmaneza, Suu Kyi, 64 anos, Prémio Nobel da Paz, em 1991, passou 14 dos últimos 20 anos. Não cometeu nenhum crime, não agrediu, não falsificou, não matou..., está presa, apenas, porque acredita na democracia, nas liberdades e se preocupa com o seu povo, como já antes o seu pai fizera. Deixou Londres, em 1988, onde vivia, para assistir ao funeral da mãe. Embrenha-se na política, concorre às eleições de 1990, ganha-as, mas não governará, em vez disso, é perseguida e colocada em prisão domiciliária, por ordens de uma Junta Militar que governa o país.
Nas últimas aparições públicas (em Maio de 2009, julgo, altura em que devia ser posta em liberdade e é de novo acusada e presa, por ter recebido um americado que, a nado, atravessou o lago e entrou em sua casa), parecia, fisicamente, muito fragilizada. Já não tinha flores a enfeitar os seus cabelos, já não tinha o sorriso aberto de antes, mas o olhar continua com a intensidade de sempre, a iluminar o caminho àqueles que acreditam e lutam pela dignidade de todos os seres humanos.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Berlim, vinte anos depois

Tinha a intenção de ir a Berlim por altura das comemorações que assinalaram, no início desta semana, a queda do muro de Berlim, mas não foi possível. Para mim, foi, talvez, a seguir ao 25 de Abril, o acontecimento que vivi com maior entusiasmo. Nesses dias, todos estávamos em Berlim Leste e, nessa noite, todos atravessámos os postos fronteiriços para abraçar fosse quem fosse. Foi algo tão extraordinário que ainda hoje guardo, com nitidez, imagens das manifestações, das filas de gente, da alegria incontida no rosto das pessoas... (recordo, sobretudo, reportagens da TVE).
Era o fim de uma tragédia que durou décadas e humilhou milhões de pessoas. O futuro, por mais incerto e difícil que pudesse parecer, era já uma esperança. A queda do muro e do sistema que o sustentava são prova de que há, sempre, nas pessoas e nos povos, por piores que sejam as circunstâncias, capacidade de agir e de renascer.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Fidel, o retrato pelo próprio

Vi no início do passado mês de Agosto, na televisão espanhola, um documentário, que apanhei já a meio, sobre Fidel Castro. O repórter fala inglês, não cheguei a perceber qual a nacionalidade, e há uma tradutora. Estão num restaurante a almoçar. Enquanto isso, falam de eleições. - Deviam fazer um estudo sobre o sistema eleitoral cubano, há representatividade, são os vecinos que elegem os seus representantes – explica o velho ditador. Só pode ser ironia, penso.
Fidel parece muito fragilizado, come e fala com alguma dificuldade, precisa de ajuda para entrar no carro. Ainda assim, está impecavelmente vestido de comandante.
Perguntam-lhe pelo estado civil e pelas mulheres que amou. Não sabe muito bem explicar: - Só casei uma vez, mas não foi uma vida sem amor, diz. Referem-lhe uma das mulheres com quem viveu, dizendo-lhe o quanto foi extraordinária. Confirma: - Foi uma mulher extraordinária, uma grande mulher, não vou falar dela, nunca falei. Perguntam-lhe: - Nem daquelas com quem teve filhos? - Não, nunca falei, por respeito a elas". Falam-lhe de uma outra senhora, ele não a identifica, só quando lhe referem o apelido, se recorda, e de outra ainda, mas ele nada diz. Por que têm os revolucionários comunistas tamanha reserva de intimidade? Por que não amam às claras?
- E os filhos? Poucas ou nenhumas fotografias há, dizem-lhe. Responde que sempre os recorda, mesmo que estejam longe e não os veja por longos períodos, também não parece um assunto cómodo. Numa imagem televisiva antiga, aparece um filho, ainda criança, com um cãozinho ao colo, sentado a seu lado, Fidel fala com ele com imensa ternura.
- E o Che Guevara? Fala do encontro no México, da revolução, da saída de Cuba, da ida para a Bolívia, da morte. Ouve-se a despedida do Che Guevara, pela voz do próprio. É um hino revolucionário, uma crença desmesurada na ideologia. Eu, mesmo sabendo da violência e da morte que semearam as revoluções, ao ouvir o Che, sinto-me, por instantes, revolucionária, há neste acontecer algo que transcende tudo. Não se explica.
A conversa continua: - As autoridades de Moscovo não lhe pediram para se livrar do Che? - Não, sabiam que não valia a pena, nunca o faria, tal como com Raul.
- Não há negros no governo? - A revolução a quem mais beneficiou foi aos negros, há negros, diz. - O que pensa do futuro do mundo? - O mundo está a ficar ingovernável, responde, tecendo considerações. Fazem-lhe perguntas incómodas, mas nunca são levadas até ao fim. Fidel responde o que quer, como quer, sem mais perguntas.
Termina a reportagem no gabinete, querem despedir-se, mas ele diz que vai ao aeroporto: - É a única maneira de saber que partem, ironiza. Todos sorriem. É estranho ver aquela quase informalidade no trato, por parte de Fidel.
Lá está, no aeroporto. Despede-se do repórter, de outras pessoas e por fim do câmara, este não está à espera e fica desconcertado. Fidel dá-lhe um abraço, diz-lhe qualquer coisa e todos riem. Parece um homem com humor.
Depois de tantos anos, dou por mim a olhá-lo com outros olhos. Mas a história não se reescreve e os longos anos da ditadura cubana também não, a falta de liberdades e a pobreza continuam. Não tenho outra opção senão voltar a olhá-lo com os olhos de sempre.

(Nota: Não sei quando foi feita a reportagem, com toda a certeza pouco tempo antes de Fidel transferir o mando para o irmão Raul).