Pesquisar neste blogue

sábado, 29 de janeiro de 2011

Sou o Paulo, sou um artista

Encontrei-o, ao final da manhã, na marginal de Maputo, junto ao cais onde se apanha o barco para Catembe. Segurava, numa das mãos, um conjunto de telas e tentava vender-me uma (ou as que pudesse, claro está). Diz-me: "Olá, senhora, veja as minhas pinturas, sou eu que pinto, sou um artista"!
"Sim, mas agora não tenho tempo, não quero comprar, não quero". E continuo, apressando o passo.
"Fico à sua espera, quero mostrar-lhe o meu trabalho" - diz-me.
 E ficou. Primeiro, era só para que eu visse as telas, mas depois usou todos os argumentos e mais um, insistindo sempre, mas sem ser, em nenhum momento, desrespeitoso ou incomodativo, pelo contrário, havia nos olhos de Paulo uma bondade que me chegava, e depois era encantador a forma como falava da sua vida e da sua sensibilidade de artista. Estava convencida que era um artista, na assinatura lá estavam as iniciais do seu nome. Escolhi uma das telas, e comprei-a. "Vou fazer um quadro e, quando o olhar, pensarei: onde estará o Paulo, o jovem artista moçambicano que, num dia de Novembro de 2010, encontrei na marginal de Maputo? Talvez seja agora um artista famoso, espero que sim" - digo-lhe.
No dia seguinte quebrou-se a magia, enquanto passeava pela baixa encontrei muitos “Paulos”, jovens (todos artistas) que vendem telas iguais, usando exactamente as mesmas estratégias. Achei graça, é óbvio que para mim tanto importava. Aliás, se voltar a encontrar o Paulo, tratá-lo-ei por artista, vou falar-lhe de tintas e pincéis, sentimentos e paisagens, como no dia do nosso primeiro encontro. Ele pode não ser artista, mas carrega uma alma de artista.

Sem comentários: