Narrador:
Sofrem até ao limite das suas forças, no corpo e na alma, caem inconscientes,
irremediavelmente estropiados e muitas vezes mortos.
Feitor:
- "Era um escravo forte, bom para o trabalho.
Senhor:
- Tanto dinheiro que dei por ele"!
Feitor:
Calados! Ninguém fala!
Narrador:
O silêncio imposto aos que assistem não pode ser mais perturbador, ainda que os
olhos, rasos de água, denunciem a tristeza e a raiva que os consomem por
dentro.
Mas, nenhum
destes homens deixou de sentir ou de pensar, nenhum deixou de ser gente, e
alguns são fortes, muito fortes –
João -
Há alturas em que uma pessoa não pode mais continuar de cabeça baixa, vamos
reunir-nos, combinar, planear fuga. Lá fora, estão os quilombos.
Narrador:
- Lá fora, está a liberdade, sempre sonhada mas quase nunca possível, por perto
há sempre um capitão do mato, de arma ao ombro, pronta a disparar. Sabem que só
com ajuda sairão dali.
Quem poderá
ajudá-los? Talvez alguns negros já libertados, talvez algum abolicionista.
Esperam. Resistem.
A carta de alforria,
Sem comentários:
Enviar um comentário